Marcelo Odebrecht diz que não conhece político eleito sem caixa 2

Os vídeos com as delações de executivos de construtora Odebrecht têm revelado, diariamente, práticas de corrupção que atingem os principais partidos, e estão escandalizando o Brasil. Em um trecho da delação, Marcelo Odebrecht afirmou que não conhece político eleito no país sem o caixa 2.

“Eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha conseguido fazer qualquer eleição sem caixa 2. O caixa 2 era três quartos, o que eu estimo. Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa 2. O cara até pode dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era caixa 2. Não existe, não existe”, afirma o empresário.

A declaração de Marcelo Odebrecht mostra como o pagamento de caixa 2 é disseminado nas campanhas eleitorais. Em outro depoimento, dado ao juiz Sergio Moro, ele revela a relação vantajosa entre empresários e governos: “Essa questão de eu ser um grande doador, de eu ter esse valor, no fundo, é o quê?

É também abrir portas. Apesar de não vir um pedido específico, é o que eu digo: toda relação empresarial com um político infelizmente era assim, especialmente quando se podia financiar, os empresários iam pedir. Por mais que eles pedissem pleitos legítimos, investimentos, obras, geração de empregos, no fundo, tudo que você pedia, sendo legítimo ou não, gerava uma expectativa de retorno. Então, quanto maior a agenda que eu levava, mais criava expectativa de que eu iria doar tanto”.

O empresário afirmou que os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff sabiam da existência do caixa 2: “No que tange a questão de caixa 2, tanto Lula, tanto Dilma tinham conhecimento do montante, digamos assim, não necessariamente do valor preciso, mas tinham conhecimento da dimensão de todo o nosso apoio ao longo dos anos”.

O pagamento de caixa 2 é chamado de “doação não contabilizada” para campanhas políticas e o que as delações dos executivos e ex-executivos da Odebrecht mostram é que no dia a dia essas operações foram meticulosamente registradas, controladas por um sistema sofisticado e secreto.

O sistema é o drousys, usado pelo departamento de Operações Estruturadas da construtora, que pagava a propina. Essa rede de computadores tinha diversos aplicativos para as conversas e cada um deles precisava de uma senha de acesso diferente. O conteúdo escrito era criptografado, para dificultar possíveis vazamentos. Para evitar falhas de conexão, o servidor do drousys ficava na Suíça. Havia até um serviço de suporte, um help desk, com técnicos especializados para ajudar os executivos e operadores a usar o sistema aqui no Brasil.

O delator Hilberto Mascarenhas contou como o sistema foi criado: “Quando começou a circular dinheiro demais, eu fiquei preocupado, meu Deus do céu. Aí me perguntam onde é que foi aplicado o dinheiro e tal. Eu tinha que explicar. Não era uma contabilidade oficial, mas era uma contabilidade não oficial”.

Dos 71 políticos investigados, mais de um terço é acusado de crime de caixa 2. Mesmo quem preferia não receber assim cedia, como mostra a negociação que resultou em um pagamento para a senadora Katia Abreu, do PMDB.

O delator Mário Amaro contou que o marido da senadora, Moisés Pinto Gomes queria que o valor fosse contabilizado como doação oficial, mas no fim aceitou dinheiro de caixa 2: “Me reuni novamente com o Moisés já na semana seguinte. Eu estou autorizado a fazer pagamento de R$ 500 mil de caixa 2. Poxa, talvez a gente nem queira, mas veja bem, ficou aquele impasse, aquela conversa, mas no final ‘ah, vamos em frente’”.

Na delação, o ex-diretor da Odebrecht, Claudio Mello, afirma que a empresa não tinha como garantir o que os políticos faziam com o dinheiro que recebiam: “O motivo do pedido era a pretexto de doação de campanha. Agora quero deixar claro pra senhora, eu não posso afirmar se ele foi usado pra doação de campanha. Nem eu nem a empresa pode afirmar isso, entendeu?”.

Em nota, a defesa de Lula afirmou que o ex-presidente já teve todos os seus sigilos quebrados, no Brasil e no exterior e nenhum valor ilegal foi encontrado. Também em nota, a ex-presidente Dilma Rousseff disse que nunca pediu recursos para campanha ao empresário e que nunca manteve relação de amizade ou de proximidade com Marcelo Odebrecht.

A senadora Kátia Abreu, também em nota, disse que ela e o marido, Moisés Pinto Gomes, nunca participaram de corrupção e estão à disposição para prestar os esclarecimentos necessários. Veja a íntegra do que eles disseram.

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