Criptomoeda da Venezuela lastreada em petróleo pode ser barril de pólvora

A criação da petros, a criptomoeda anunciada pelo presidente Nicolas Maduro, pode se transformar em um barril de pólvora para a economia venezuelana, segundo vários analistas, entre eles o economista Ricardo Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Teixeira diz que, apesar da valorização de 1.500% acumulada este ano pela bitcoin, contar com esse recurso para resolver a grave crise política-econômica por que passa o país é extremamente arriscado não só pelas abruptas variações que podem ocorrer na moeda digital, como pelas oscilações do próprio mercado de petróleo.

Para tentar contornar o boicote econômico imposto à Venezuela pelos Estados Unidos e por diversos países, Maduro tomou algumas medidas radicais. A primeira foi criar um novo sistema de pagamentos internacionais baseado em várias moedas, como o yuan, a rúpia, o euro e o iene em substituição ao dólar. A segunda medida foi a criação da petros, uma criptomoeda que será lastreada na cotação do barril de petróleo produzido no país pela Petróleo de Venezuela Sociedade Anônima (PdVSA).

Na prática, o barril de petróleo é cotado agora tendo como referência o yuan. Hoje, a cotação do barril venezuelano é de 302 yuans, o equivalente a 39 euros, valor inferior aos 53 euros por barril cotado pelo tipo Brent, extraído no Mar do Norte. Maduro anunciou que, para dar credibilidade à nova criptomoeda, cada petro será garantida por um barril de petróleo. Para isso, ele conta com reservas estimadas em 5 bilhões de barris certificados existentes nas reservas da Faixa Petrolífera da Bacia do Orinoco, uma das principais do país.

Para Ricardo Teixeira, dar respaldo financeiro à criptomoeda com a garantia de um petróleo que, na prática, não existe para pronta entrega é algo bastante complicado, ao contrário do que acontecia até recentemente quando o ouro era a garantia de lastros internacionais.

“Ele está querendo ir na onda das criptomoedas, uma tendência que parece natural, mas que vai oscilar bastante. No caso do bitcoin não há um lastro, e ele estaria lastreando sem ter,  como no passado, quando você tinha o padrão ouro e ele ainda estava nas minas. Isso vai depender da matriz mundial energética para continuar valendo”, alerta o economista.

O professor da FGV observa ainda que, em termos de criptomoeda, ninguém sabe exatamente o que pode acontecer. Na sua visão, seria melhor o governo tentar dar esse lastro para a moeda do próprio país, o bolívar, pelas via monetária, tradicional. Além disso, para transações entre países, Teixeira afirma que o uso de cibermoedas não seria aceito hoje por nenhum país.

Quanto à economia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a estimar que a inflação na Venezuela deve fechar o ano em 675% e, com o agravamento dos problemas que o país enfrenta, a alta de preços pode chegar aos 1.000% no fim de 2018.

“Toda vez que você tem esse binômio, que já tivemos no Brasil, de inflação muito elevada por conta de uma recessão, isso representa um sofrimento, um trauma muito grande para a população. Embora a gente não tenha vivido isso nessas proporções, a gente sabe o que é ter uma inflação elevada com uma taxa de crescimento negativa. Não é com o lançamento de uma criptomoeda que ele (Maduro) vai resolver isso. Ele ou o país vão precisar fazer reformas e isso vai demorar um pouquinho, mesmo lastreado com uma fortuna que eles têm em petróleo”, finaliza Teixeira.

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