Fiscal do governo recebia R$ 2.000 por mês e até frango como suborno, diz PF

Além dos consumidores, carnes impróprias também chegaram aos fiscais do ministério da Agricultura envolvidos no esquema que é alvo da “Operação Carne Fraca”, deflagrada pela PF (Polícia Federal) nesta sexta-feira (17). Eles eram coniventes com empresas que adulteravam alimentos, como na utilização de carnes estragadas na composição de salsichas e linguiças, como verificou a PF.

O agente de inspeção Tarcísio Almeida de Freitas, 62, e seu colega Sergio Antonio de Bassi Pianaro, 56, envolvidos no esquema segundo a PF, reclamaram de carnes que receberam da Peccin Agro Industrial, empresa que deveria ser fiscalizada por eles na unidade de Curitiba no Paraná. Ambos foram alvos de mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão nesta sexta-feira.

Em uma conversa telefônica interceptada pelos investigadores, Tarcísio criticou a qualidade da carne da Peccin. “Eu peguei um peito defumado de frango. Decaiu muito o produto Peccin aí”, disse.

Segundo depoimentos de uma testemunha a investigadores, “Tarcísio sempre fazia constar em seus relatórios que os procedimentos da empresa estavam dentro da legalidade, quando na verdade não estavam”.

No despacho do juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, que autorizou o cumprimento de mandados, é reproduzida uma conversa entre os dois agentes.

TARCÍSIO: “Aaaa. Sergio, um comentário, que eu vou comentar com você aqui, até chato, eu
só vou falar pra você, não quero nem comentar aí não, sabe”.
SERGIO: “Um hum”.

TARCÍSIO: “Eu peguei um. Eu peguei um peito defumado de frango. Decaiu muito o produto Peccin aí”.
SERGIO: “É tá muito (ininteligível). A Sueli (sua esposa) falou a mesma coisa. ‘Meu Deus,
Sergio! O que é que é isso, cara?”

TARCÍSIO: “Ó, quer vê, ó. O pior, Sergio, não se pode criticar, eu sei que (ininteligível). Mas eu, com toda sinceridade, eu não comi, Sergio. Eu dei um pedaço aqui pro vizinho, eu dei outro pra minha cunhada. Eu peguei um peito defumado e coisa assim. Aí quando eu fui cortar, Sergio, não é aquele peito defumado que tenha carne gostoso. É tipo uma massa, tipo de mortadela. Uma massa “homogênica”. Assim, tipo, igualzinha uma massa de mortadela, avermelhada, tudo. Eu digo não, decaiu muito. Vou até dar. Vou perguntar pro Sergio se ele pegou algum peito assim”.

SERGIO: “É, o último foi bem, bem, desagradável”.

TARCÍSIO: “Meu Deus, decaiu muito, Sergio. Decaiu 100%, 100% do produto do Peccin aí, hein? Meu Deus!”

Em seu despacho, o juiz diz que esse diálogo demonstra “plena ciência de que [Tarcísio] estava colaborando para introdução no comércio de alimentos totalmente inaptos ao consumo, gerando grande risco à saúde pública”.

Tarcísio recebia valores que variavam entre R$ 2.000 a R$ 5.000, mensalmente, “para atuar em desacordo com a sua atribuição”, segundo os investigadores. Sobre Sérgio, eles apontam uma movimentação bancária com “depósitos que não guardam relação com as informações prestadas ao fisco federal”, citando que não foram informadas venda de bens ou outras fontes de receita, além dos rendimentos do cargo público, que somam quase R$ 185 mil, de acordo com o despacho.

Eles também teriam recebido carnes como pagamento para encobrir empresas.

Segundo a Justiça Federal, os crimes de Tarcísio e Sérgio teriam ocorrido entre 2014 e 2016. Os agentes teriam cometido os crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, concussão, peculato, prevaricação, advocacia administrativa, falsificação/corrupção/adulteração/alteração de substância ou produtos alimentícios, “lavagem” ou ocultação de bens, direitos ou valores oriundos de corrupção e crimes previstos na lei de organização criminosa.

A matéria é do UOL

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