Hacker diz que acionou Glenn Greenwald por meio de Manuela D’Ávila

Preso pela Polícia Federal por suspeitas de ter hackeado as contas no Telegram de diversas autoridades públicas, Walter Delgatti Neto contou em seu depoimento dado na última terça (23) que a ex-deputada federal e candidata à vice-presidência em 2018 Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) teria sido a pessoa que o colocou em contato com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, em maio deste ano.

O Intercept começou a publicar em junho reportagens com diálogos entre o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e procuradores da Operação Lava Jato no Paraná, entre eles Deltan Dallagnol. O site nunca revelou qual foi a fonte das mensagens.

À Polícia Federal, Delgatti Neto afirmou que obteve o telefone de Manuela após hackear o celular da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Delgatti, então, teria telefonado à ex-deputada para pedir contato do jornalista Glenn Greenwald, informando possuir um acervo de conversas entre membros do MPF (Ministério Público Federal) que continha irregularidades.

A princípio, a ex-deputada não teria acreditado nessa versão, segundo narra o depoimento, mas um tempo após Delgatti Neto enviar áudios de conversas entre procuradores, o próprio Glenn entrou em contato com ele por meio do Telegram. Segundo Delgatti diz no depoimento, Glenn disse ter interesse no material, pois este seria de interesse público.

“Que ligou para Manoela (sic) D’ávila diretamente da sua conta do telegram e disse que precisava do contato do jornalista Glenn Greenwald; que a princípio Manoela D’ávila não estava acreditando no declarante, motivo pelo qual fez o envio para ela de uma gravação de áudio entre os procuradores da República Orlando [Martello Júnior] e Januário Paludo; que no mesmo domingo do dia das mães [12 de maio], cerca de 10 minutos após ter enviado o áudio, recebeu uma mensagem no telegram do jornalista Glenn Greenwald, que afirmou ter interesse no material, que possuiria interesse público”, diz trecho do depoimento.

No depoimento, Delgatti diz que procurou Glenn para repassar o conteúdo de mensagens capturadas em celulares de quatro procuradores: Deltan Dallagnol, Orlando Martello Júnior, Diogo Castor e Januário Paludo. Delgatti relatou ter procurado Glenn Greenwald por conhecer a atuação do jornalista nas reportagens sobre documentos secretos dos EUA, no caso de Edward Snowden.

O preso afirmou que envio das mensagens ao Intercept partiu de iniciativa própria dele e não envolveu nenhuma contrapartida. No depoimento, Delgatti declarou também que invadiu os aparelhos de diversas autoridades – entre elas Dilma, Moro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -, mas que só armazenou as mensagens obtidas de aparelhos dos procuradores por avaliar que delas constavam atos ilícitos narrados pelos membros da Lava Jato.

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