Marina Silva detona Bolsonaro e Moro em entrevista e diz que “jamais aceitaria ser ministra do Bolsonaro”

Ex-senadora e candidata derrotada à Presidência da República, Marina Silva disse em entrevista ao jornal O TEMPO que a postura oposicionista que adotará já havia sido definida independentemente do resultado das urnas e que a melhor forma de contribuir com o país é mostrando os equívocos e os erros do futuro governo.

Confira abaixo a entrevista:

Sergio Moro aceitou ser ministro de Bolsonaro. Qual sua avaliação sobre essa decisão do juiz?

Estamos vivendo um momento muito delicado na nossa história, todas essas variáveis têm que ser consideradas. A Lava Jato e o juiz Sergio Moro fizeram um grande trabalho de investigar e punir até agora casos graves de corrupção envolvendo políticos e empresários. Obviamente que todo esse trabalho é de alta relevância para o país, então ainda não tive tempo de fazer uma avaliação desde que houve a confirmação, a repercussão de tudo isso sobre o trabalho que vinha sendo feito. Se perguntar minha opinião, a decisão dele é de foro íntimo. Agora, ele vai se descompatibilizar de todo o trabalho que vinha fazendo. Espero que tudo continue como vinha acontecendo antes, punindo os que vinham sendo punidos pela corrupção, independente de partido. Ainda há vários denunciados a serem investigados, inclusive o próprio presidente Michel Temer.

A senhora sempre deu declarações em defesa da Lava Jato. Essa decisão de Moro gera dúvidas em torno da atuação dele nas decisões da Lava Jato?

Claro que qualquer avaliação com base na realidade terá que ser feita no trabalho que será realizado. O governo Bolsonaro sinaliza muitos retrocessos. Na minha área por exemplo, meio ambiente, é um retrocesso enorme. Espero que não tenhamos nenhum retrocesso na área institucional, independente de quem seja o governo, de quem seja ministro.

A senhora já se mostrou fortemente contrária à proposta de unir os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, indicando que haveria retrocessos. Bolsonaro chega com a legitimidade de 58 milhões de votos. Como impedir que propostas e decisões assim avancem (a entrevista ocorreu antes do recuo do presidente eleito em relação a fusão)?

Quem é eleito não tem um cheque em branco, tem que cumprir a Constituição, e ela diz que é um direito do povo brasileiro o meio ambiente saudável e protegido. O governo foi eleito não para desmontar a proteção dos recursos naturais brasileiros nem para fazer o que bem entender em prejuízo da sociedade e do próprio agronegócio, porque é isso que vai acontecer. Espero que todas as manifestações a essa decisão desastrosa o presidente considere, e os sinais que lhe estão sendo dados para corrigir essa ideia errônea e totalmente equivocada.

Se ele voltar atrás e mantiver o Ministério do Meio Ambiente e te convidar para ser ministra, a senhora aceitaria?

Eu jamais aceitaria ser ministra do Bolsonaro. Eu disse no segundo turno que seria oposição a quem quer que fosse o eleito, e é isso que farei, uma oposição democrática, em primeiro lugar o país. Podemos contribuir com o país estando na oposição. Aliás, esse governo vai precisar de oposição, a melhor forma de ajudá-lo é fazendo uma oposição democrática, mostrando os equívocos e os erros. É preciso defender a proteção ambiental e a sociedade. Somos um país que é uma potência.

A Rede é um partido pequeno, sem dinheiro e pouca estrutura. Mas o PSL também. O que explica o sucesso de Bolsonaro e a baixa votação que a senhora teve?

Bem, existem outros partidos e candidatos que também não conseguiram. Desta vez o eleitor tinha um leque de propostas, candidaturas do Amoêdo, do Alvaro, do Ciro, fora da velha polarização PT e PSDB. Alternativas, e eu não entrei nessa eleição para fazer o discurso do ódio, da vingança, de enfrentar a estrutura constitucional. Eu entrei na campanha de forma propositiva. Não resultou em votos.

Ficou decepcionada com o 1% dos votos?

De qualquer jeito, a forma como se ganha determina a forma como se governa. A vitória só se mede na história. Conheço vitoriosos de momento que depois se mostraram na derrota e, na verdade, os vitoriosos foram aqueles que estiveram do lado certo. Vou continuar ao lado da defesa do meio ambiente, dos direitos humanos, da democracia, da Constituição e da liberdade.

Em 2020, você pode ser candidata a algum cargo municipal?

Não cogito nada disso, é momento de pensar no Brasil, de se colocar junto à sociedade para defender a proteção da Amazônia, do Pantanal, das comunidades indígenas, da democracia e da liberdade de expressão.

O PT criticou muito a falta de mobilização do Ciro Gomes no segundo turno. Como classifica essa atuação dele? Foi um erro?

Cada um age de acordo com sua consciência política, cada um fez sua própria avaliação de acordo com seus critérios políticos. (Ciro) estabeleceu uma decisão e uma forma de agir avaliando as duas candidaturas. As duas não eram ideais, mas foram para o segundo turno. Na democracia, cada um é livre para agir da forma mais adequada em termos com o desafio que está posto.

Muito se comentou que poderia ter acontecido uma frente política democrática em apoio ao Haddad. Foi citado seu nome, o de Ciro, o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Por que não aconteceu? Houve alguma mobilização nos bastidores? Algum convite?

Não participei de nenhuma mobilização, fiz uma manifestação de voto pessoal e individual, olhando para as circunstâncias, uma vez que um candidato já representava um risco para a agenda de proteção do meio ambiente e dos direitos indígenas, e o outro, pelo menos, não representava isso. Não participei de nenhuma articulação. Acho que é necessário fazer uma autocrítica sobre os erros nas administrações petistas.

A Rede não cumpriu a cláusula de barreira. Qual o futuro do partido?

Se comenta em uma fusão com o PV e até o PPS. É um processo avaliado internamente no partido. O PPS já estava fazendo um movimento de refundação, um congresso de refundação, e de forma respeitosa nos convidou para esse debate, mas é uma avaliação interna que ainda está sendo feita.

Em Minas, houve polêmica no diretório estadual da Rede por conta de algumas denúncias feitas por uma ex-integrante da executiva estadual envolvendo o Paulo Lamac (vice-prefeito de Belo Horizonte). A senhora está por dentro disso? Pode haver alguma intervenção nacional do partido no Estado?

Não participei de nenhuma reunião tratando sobre isso dos Estados. O porta-voz Pedro Ivo é o mais adequado para comentar sobre isso.

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