Matar homossexuais é um mandamento muçulmano, não do Estado Islâmico

Por Amálgama Traduções
Autoridades sunitas e xiitas modernas sancionam o assassinato de homossexuais.

Andrew C. McCarthy, National Review
trad. Daniel Lopes e Eduardo Wolf

Várias notícias indicam que o número de mortos no ataque jihadista em uma popular boate gay de Orlando pode passar das 50 pessoas, com mais de 50 outras feridas.

Sheikh Yusuf al-Qaradawi

Sheikh Yusuf al-Qaradawi

A identidade do terrorista foi informada: ele é Omar Mateen, um cidadão americano de 29 anos de idade, muçulmano devoto de Fort Pierce, Flórida, filho de imigrantes do Afeganistão.

O FBI apontou que Mateen, que foi morto em uma troca de tiros com a polícia por volta das 5 da manhã, era um extremista islâmico. O deputado Peter King (republicano de Nova York), que preside o comitê de segurança interna da câmara, diz que o atirador foi “treinado para usar armas”. Como já observamos aqui muitas vezes, treinamento militar é o que geralmente diferencia terroristas competentes de meros aspirantes.

Mas quer sejam verdadeiros ou apenas potenciais jihadistas, esses muçulmanos são motivados pelo supremacismo islâmico, a crença de que a sharia – a ancestral e totalitária lei islâmica – deve ser imposta à sociedade.

Baseado nisso tudo, há uma abundante especulação em Washington e na mídia de que o ataque foi “inspirado pelo ISIS”. Isso é consistente com a inanição bipartidária, com selo governamental, que temos presenciado há um quarto de século, o que costumo chamar de “Um Islã Apenas Deles”, uma invenção da classe política que diz mais ou menos assim:

O islã é uma religião da paz, e ponto final. Fim da discussão. Grupos “extremistas violentos” como ISIS e al-Qaeda matam arbitrariamente, sem qualquer motivação ideológica real. Assim, ISIS e al-Qaeda não são islâmicos, mas, na verdade, anti-islâmicos – e se eles citam a escritura islâmica para justificar suas atrocidades, estão “sequestrando” e “pervertendo” o islã.

Como devemos ver esses grupos como “anti-islã” ao invés de islã, só é aceitável chamar um assassinato em massa de “terrorismo” se as autoridades conseguirem fazer uma ligação plausível entre o ocorrido e algum desses grupos. De outra forma, se há um muçulmano envolvido, fique com “violência doméstica” ou coisas do tipo.

Por último, se um ataque perpetrado por um muçulmano é terrorismo o suficiente para ser muito difícil negar, chame-o de “inspirado pelo ISIS” ou “inspirado pela al-Qaeda” ou “resistência política do Hamas” etc. – mas nunca, jamais, o atribua ao islã em qualquer de suas formas.

Isso é idiotice. Será que o ocorrido hoje, o pior ataque em massa com arma de fogo da história americana, nos ajudará a enxergar o quão idiota são esses argumentos?

Precisamos considerar em separado o islã e sua lei da sharia.

Existem várias formas de interpretar a escritura islâmica a fim de desvinculá-la da violência. Isso, claro, não muda o fato de que o islã supremacista, fundamentalista, é uma interpretação legítima, tradicional e virulentamente anti-ocidental do islã; mas pelo menos significa que podem existir outras correntes tradicionais do islã que rejeitam a violência e o sistema político-legal da religião.

A sharia, por outro lado, é gravada em pedra. Mesmo a maioria dos reformistas islâmicos reconhece que ela precisa de reforma – não que ela possa ser reinterpretada, mas que precisa ser mudada. Suas disposições e especialmente suas punições draconianas foram em grande parte estabelecidas um milênio atrás.

A exigência de que homossexuais sejam mortos não é do ISIS ou da al-Qaeda. É da sharia – que deriva da escritura muçulmana.

Uma versão em inglês do clássico manual da sharia, Reliance of the Traveller, foi endossada por estudiosos da Universidade al-Azhar, sede do ensinamento sunita desde o século X; pelo Instituto Internacional do Pensamento Islâmico, um think tank da Irmandade Muçulmana influente em Washington; e por outros influentes governos e comentaristas islâmicos.

Eis o ensinamento sobre homossexualidade encontrado no capítulo “Gravidades”, dedicado às ofensas mais graves:

Sec. p17.0: SODOMIA E LESBIANISMO

Sec. p17.1: Em mais de um momento no Alcorão Sagrado, Alá nos conta a história do povo de Lot, e como Ele o destruiu devido a sua prática perversa. Há consenso tanto entre muçulmanos e quanto entre seguidores de todas as outras religiões de que a sodomia é uma gravidade. Ela é ainda mais vil e horrível do que o adultério.

Sec. p17.2: Alá Altíssimo diz: “Dentre as criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade, sois um povo depravado!” (Alcorão 26:165-66).

Sec. p17.3: O Profeta (Alá o abençoe e lhe dê paz) disse:

“Mate aquele que sodomiza e aquele que permite que seja feito consigo.”

“Que Alá amaldiçoe aquele que faz o que fazia o povo de Lot.”

“Lesbianismo por mulheres é adultério entre elas.”

O sheikh Yusuf al-Qaradawi é provavelmente o mais influente jurista do sunismo vivo. Aqui, conforme reportado pelo Middle East Forum, está o ensinamento de Qaradawi sobre a homossexualidade:

Devemos estar conscientes de que, ao regular o impulso sexual, o islã proibiu não apenas relações sexuais ilícitas e tudo o que leva a elas, mas também o desvio sexual conhecido como homossexualidade. Esse ato pervertido é uma inversão da ordem natural, uma corrupção da sexualidade humana e um crime contra o direito das mulheres. (O mesmo igualmente se aplica no caso do lesbianismo.)

A disseminação dessa prática depravada em uma sociedade perturba seu padrão de vida natural e faz daqueles que a praticam escravos de sua luxúria, privando-os de gosto decente, morais decentes e um modo de vida decente. A história do povo do profeta Lot, a paz esteja com ele, conforme narrada no Alcorão, deveria nos bastar. O povo do profeta Lot era viciado nessa desavergonhada depravação, abandonando relações naturais, puras e corretas com as mulheres em busca dessa prática não natural, imunda e ilícita. É por isso que o profeta Lot, a paz esteja com ele, lhes disse: “Dentre as criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade, sois um povo depravado!” (Alcorão 26:165-166)

A mais estranha expressão da perversão de natureza desse povo, sua falta de orientação, depravação de morais e aberração de gosto foi sua atitude para com os convidados do profeta Lot, a paz esteja com ele.

Os juristas muçulmanos sustentaram diferentes opiniões a respeito da punição a essa prática abominável. Deveria ser a mesma punição que ocorre para a fornicação? Deveria tanto o participante ativo quanto o passivo serem condenados à morte? Tais punições podem parecer cruéis, mas foram sugeridas para manter a pureza da sociedade islâmica e mantê-la livre de elementos pervertidos.

Desde a invasão americana no Iraque em 2003, não faltaram louvores ao Aitolá Ali Sistani, frequentemente enaltecido pela administração Bush como um “moderado” e um defensor da “democracia”. (Nós, os críticos, objetávamos que Sistani era um fundamentalista e absolutista da sharia que defendia a “democracia” – no sentido de voto popular – em uma sociedade de maioria muçulmana por ser esse o modo mais direto e eficaz de impor a sharia.) Sistani é das mais influentes autoridades xiitas em sharia que se pode imaginar. Quando lhe questionaram “qual é o julgamento islâmico para a sodomia e o lesbianismo?”, Sistani respondeu: “É proibido. Aqueles envolvidos em tais atos devem ser punidos. Em verdade, os sodomitas devem ser mortos da pior maneira possível”.

Isso, deixe a coisa entrar na sua cabeça: “mortos da pior maneira possível”.

A inspiração dos muçulmanos para tratar brutalmente ou mesmo exterminar em massa os gays não vem do Estado Islâmico. Trata-se de algo profundamente enraizado na lei islâmica, afirmado por muitos dos mais renomados estudiosos islâmicos. Eis por que, onde quer que a sharia seja lei, os homossexuais são perseguidos e mortos. Veja-se, por exemplo, esta reportagem de 2014 no Washington Post listando dez países muçulmanos onde a homossexualidade pode ser punida com a morte. (Iêmen, Irã, Mauritânia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iraque – a despeito de sua nova constituição, apoiada pelos Estados Unidos).

Observe-se ainda que Omar Mateen é o filho americano, nascido nos Estados Unidos, de um casal de imigrantes do Afeganistão, onde a homossexualidade também pode ser punida com a morte – a despeito dos esforços americanos de construção nacional naquele país nos últimos quinze anos.

Como já defendi antes, embora uma proibição categórica à imigração islâmica seja uma política ruim, nossa lei de imigração deve distinguir entre a religião islâmica e o islamismo, isto é, a ideologia política que prega o absolutismo da sharia, que tende a vicejar vigorosamente onde quer que os muçulmanos formem uma massa crítica. Seguramente deveria haver restrições severas à imigração oriunda de países, regiões e comunidades (e.g., na Europa) em que os critérios da sharia são impostos de jure ou de facto.

O problema com a imigração em massa proveniente de enclaves em que prevalece a sharia não reside simplesmente no fato de que terroristas treinados podem se infiltrar em meio à população imigrante. O problema está em que os muçulmanos adeptos da sharia e refratários à assimilação formarão enclaves da sharia nos Estados Unidos, como fizeram por toda a Europa, enclaves nos quais jovens muçulmanos serão “radicalizados” bem debaixo de nossos narizes pelos anos vindouros.

Hoje, tivemos mais um vislumbre de uma radicalização que não é “doméstica”, mas fomentada por uma ideologia estrangeira, antiamericana e antiliberdade.

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