Representantes do Islã no Brasil pediram em comunicado publicado nesta sexta-feira (22), que a imprensa ocidental deixe de usar o termo Estado Islâmico como sinônimo do grupo terrorista atuante no oriente médio. Embaixadores dos países de maioria muçulmana fazem parte do movimento e querem que a mídia passe a usar o termo “Daesh”, em substituição.
A explicação está na islamofobia, preconceito contra cidadãos mulçulmanos no mundo. A reivindicação foi feita pela Fambras (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), com o apoio de embaixadores de países listados logo abaixo.
No Brasil, a organização estima que existam 900 mil muçulmanos, que convivem pacificamente com as demais religiões, mas sofrem discriminação todos os dias.
De acordo com a Fambras, o preconceito se manifesta a cada ataque terrorista, também por que as pessoas vêem os termos ‘islâmico’, ‘islamismo’ e ‘Islam’ serem usados como sinônimo de grupos que não representam o Islã.
Em entrevista ao R7, Ali El Zoghbi, Vice-Presidente da Fambras, ressaltou que a luta contra a discriminação e diária e afeta a todos.
— Crianças muçulmanas escondem a religião por medo de preconceito, mulheres deixam de usar véu porque não querem que a família sofra discriminação, inúmeros boletins de ocorrência de agressão e casos absurdos de ódio são registrados por aqui, por que as pessoas desconhecem a religião.
“Brasileiros que seguem o Islã como religião são cidadãos que trabalham, estudam, contribuem socialmente e legalmente com suas obrigações. Aqueles saem para trabalhar e estudar, que rezam em suas casas e mesquitas, que praticam boas ações e o jejum do Ramadan são as maiores vítimas desses mesmos terroristas”, lamenta Ali El Zoghbi no manifesto.
O comunicado da Fambras reuniu embaixadores da Albânia, Azerbaijão, Arábia Saudita, Argélia, Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Malásia, Marrocos, Mauritânia, Mali, Omã, Palestina, Paquistão, Catar, Senegal, Síria, Sudão, Tunísia e Turquia.
O grupo terrorista que se denominou Estado Islâmico nasceu em 1999 e foi batizado de ‘Organização do Monoteísmo e da Jihad’.
A invasão americana ao Iraque, em 2003, se tornou a primeira etapa do que virou a Guerra do Iraque. Nessa época, esse grupo terrorista filou-se à Al-Qaeda, passando a se chamar ‘Estado Islâmico do Iraque’.
“Durante a guerra civil Síria, o grupo absorveu vários outras organizações terroristas e mudou novamente de nome, em 2013, para ‘al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa’al Sham’.
Mas a imprensa ocidental simplificou o nome para ‘Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS)’ ou ‘Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL)’, siglas que aparecem na mídia internacional ainda hoje.
Os líderes do grupo terrorista fizeram campanha para serem chamados de Estado Islâmico, sem vínculo com qualquer país, para que as ações terroristas sejam feitas no mundo inteiro.
Quando esse grupo transformou a cidade de Raqqa na capital de seu califado, surgiu o termo Daesh (sigla para al-Daula al-Islamiya al-Iraq wa Sham – Estado Islâmico do Iraque), que também é um trocadilho árabe para ‘Dahes’: ‘aquele que semeia a discórdia’. Os terroristas consideram o termo Daesh um insulto e cortam a língua de quem se refere ao grupo desta maneira.
Líderes mundiais, como o ex-ministro inglês David Cameron e os ex-presidentes americano e francês, Barak Obama e François Hollande, não usavam Estado Islâmico em seus discursos, mas, Daesh.
Não podemos dar a um grupo de terroristas o status de Estado, porque Estado é um país soberano, com estrutura própria e politicamente organizado. Tratá-lo por Islâmico também não é correto, porque é como dizer que cada um dos muçulmanos pertence a um grupo terrorista ou que um grupo terrorista representa quase 2 bilhões de pessoas no mundo.“, diz o comunicado.