Marcelo Vasconcelo – O bem contra o mal e a incrível arte de pôr a mão no fogo

Neste começo de temporada eleitoral na corrida pela presidência da República, temos visto surgir uma expressão que é muito comum em filmes e desenhos animados, e esta expressão é: O bem contra o mal!

A extrema imprensa tem repercutido esse bordão, como sempre, como se fosse a coisa mais imoral que nossa republiqueta já viu ( e olha que já vimos coisas que o diabo iria tomar garapa se visse).

Já vimos um ex-presidiário quando era ex-presidente  ou um ex-presidente antes de ser ex-presidiário, comprar o congresso nacional com mesadas, o que ficou pornograficamente conhecido como mensalão.

Já vimos os desastrosos atos de escamotear desvios dos fundos de pensão cujos rombos assolam os cofres públicos até os dias de hoje. Mesmo assim, ainda temos a incrível coragem, como brasileiros, de flertarmos com os lobos famintos pelo poder e dinheiro públicos.

Já vimos os fundos de pensão dos correios amargarem, até atualização de outubro do ano passado, o rombo de 13 bilhões, o número 13 é pura ironia do destino cruel e traiçoeiro. Mesmo assim, insistimos em pôr a mão no fogo, como se o resultado disso fosse algo diferente da queimadura, o melhor, da corrupção.

Tivemos a oportunidade de ver uma mega operação da justiça, por meio da Lava Jato, devastar verdadeiras quadrilhas criminosas, o que não poderia ir muito longe por aqui, já que o bem contra o mal é visto como uma excrescência e não como uma missão.

 Diante deste pequeno aperitivo de absurdos e descalabros,  ocorridos num passado ainda recente, era pra nós sentarmos na calçada e chorar de desgosto, uma vez que a corrupção sangrou e sugou grandes volumes de dinheiro público que seriam destinados ao desenvolvimento do país.

Mas, como somos brasileiros e não nos abatemos facilmente com catástrofes, mais ainda por vermos Anitta falando sobre política e Felipe Neto reverenciado como se tivesse cérebro, erguemos o queixo e olhamos pra frente, só o farrapo, mas com altivez: – Que venha o próximo absurdo! – gritamos como se não estivéssemos cambaleantes.

Assim, finalmente, vimos algo que nos assustou ao ponto de desacreditarmos no absurdo que a imprensa relatava. Como num passe de mágica (mágica esta feita com canetas importadas) a figura mais poderosa do mundo da corrupção que a humanidade já viu, simplesmente, é descondenada pelo STF.

Alguns desacreditavam que fosse verdade, outros diziam que seria mais fácil Anitta saber o que era um senador que a “descondenação” se concretizar, pois era demais até pra nós brasileiros, já acostumados a ver coisas que nem na ficção existem.

Foi então que começamos a ter anseio pela luta do bem contra o mal, pois achávamos que suportaríamos qualquer catástrofe sem apelar pra fé, por alguém que pudesse enfrentar os moluscos cheios de tentáculos, sedentos pelos cofres públicos do país. Ao arrepio da própria justiça, o país assistia a uma “descondenação” tão repentina quanto absurda.

O bem contra o mal passou a ser um discurso cada vez mais frequente, muito embora cada um tenha uma conotação do que seria o bem e o mal. Talvez, ambos estejam tão presentes em nós que não percebemos, pois só notamos o mal quando o vemos ser exalado dos outros e não de nós.

Mas, ao olhar pra trás e vermos os estragos que a corrupção generalizada fez no Brasil, não temos dúvidas de que o mal está nela e em seus portadores, não importa se eles são protegidos por quem detém o poder, o mal é sem dúvidas a manifestação da corrupção. Mas e o bem? Somos nós? Não sei. Talvez o bem seja melhor representado pelos Power Rangers, He-Man ou mesmo o Batman. Mas, o mal da corrupção certamente é bem pior e mais devastador que os inimigos desses super-heróis.

Enquanto isso, uma parcela da população ainda tem a incrível arte de botar a mão no fogo.

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