Acabei de assistir à partida da Champions League com o confronto envolvendo o PSG. A partida foi peremptoriamente interrompida por um suposto caso de racismo. Sim, aqui eu reafirmo um suposto caso, mas não é porque duvido, e sim porque de fato não temos imagens e nem provas de que um ato racista tenha sido proferido, mas tão somente acusações.
Os jogadores se retiraram do campo e o jogo foi suspenso.
As acusações serão investigadas e provavelmente imagens serão solicitadas para se averiguar a leitura labial do quarto árbitro acusado de racismo contra um assistente técnico do time adversário do PSG, Ístanbul.
É sempre preciso deixar claro que o racismo é o ato mais perverso da mentalidade coletivista, pois ele gera a supressão da identidade e supremacia individual de um ser humano reduzindo-o a um coletivo cuja característica comum física é a cor de pele, assim executando um senso perverso de hierarquia entre coletivos étnicos. Isso é óbvio ululante. Lutar contra o racismo é uma pauta humanitária que transcende o binarismo da direita e esquerda.
Deixando isso claro, quero observar um aspecto curioso do comportamento moderno insuflado pelas ideologias modernas: o sentimentalismo tóxico. Esse termo foi usado pelo sociólogo e psiquiatra britânico, Theodore Dalrymple, para se referir às manifestações histriônicas e sentimentalistas de pessoas mimadas ou intoxicadas pela mentalidade superficial esquerdista.
Os comentaristas e narradores, mesmo desprovidos de quaisquer confirmações e evidências concretas do ocorrido, começaram a proferir uma série de frases emocionais de efeito contra o racismo que qualquer pessoa sensata concordaria, mas com aquele aspecto performático, histriônico e brega, completamente exagerado e teatralizado, tudo para reafirmar, numa tentativa que talvez reflita insegurança interna, que o racismo é errado e inadmissível no futebol.
Bom, é óbvio que é algo repugnante, mas isso não significa que seja necessário um show performático e teatral disso. Acima de tudo, situações como essa devem ser encaradas com racionalidade. O bom senso e proporcionalidade são elementos inerentes e consubstanciais à justiça. E a justiça é clara sobre acusações: o ônus da prova recai sobre quem acusa e todos somos inocentes até que se prove o contrário.
Até o presente momento, as acusações estão sendo apreciadas e investigadas, e não veiculadas até agora quaisquer provas ou evidências do ocorrido. Mas isso não impediu do show sentimentalista dos narradores e comentaristas já se antecipando e assumindo papéis de juízes supremos imediatos. Os discursos extravagantes servem como uma demonstração sentimentalista e autoindulgente para os dias de hoje. É importante você se antecipar das acusações do tribunal cibernético e sempre se justificar, mesmo que não seja necessário, de que você não é racista, fascista, machista ou qualquer outro termo pejorativo e “cancelador” do momento.
Ao mesmo tempo que o teatro sentimentalista toma conta dos famosos, influenciadores e artistas em geral, um silêncio torna-se permanente sobre centenas de casos concretos de racismo e segregação na China, país que faz com que todos esses casos no futebol se pareçam com brincadeiras de crianças. É partir daí que você nota que não é sobre combater o racismo, é sobre o ego. É sobre exasperar sentimentalismo através de uma encenação bizarra completamente histriônica para antecipar uma blindagem contra quaisquer acusações ou insinuações de “passar pano para o racismo”.
O caso do Carrefour comprovou que, qualquer que tenha optado por esperar o outro lado da história e demais provas para avaliar se houve racismo, foi encarado como leniente e um criminoso só por optar pela prudência e pelo racionalismo. Quem prontamente não se pronunciou com lacrações para falar do ocorrido, mesmo sem provas de nada, foi julgado pelo tribunal cibernético progressista como um racista.
O tempo passou e logo as evidências começaram a aparecer. Apesar de ser patente a noção de que o tratamento dos seguranças foi desproporcional, imagens mostraram o rapaz dando um soco no segurança ao ser abordado com cordialidade, o que se desdobrou na série de agressões físicas, comprovando que a motivação passou longe de ser racista.
Mas essas evidências não foram suficientes para obstar a ginástica mental do virtuosismo retórico esquerdista sobre o caso. A Folha de SP chegou a publicar uma matéria expondo os antecedentes criminais da vítima com violência doméstica coroando o rapaz como um ‘marido errático’. A tentativa foi vista como uma forma de passar pano para um agressor de mulheres somente para adequar a narrativa da vítima e sustentar a área angelical imposta e tão necessária para os propósitos progressistas.
Até então as narrativas sobre o caso do quarto árbitro na Champions estão nebulosas. Segundo matéria recente do Globo Esporte, o Ministro dos Esportes da Romênia condenou o comentário, e até então a compreensão gira em torno de que ele foi racista ao proferir um comentário descritivo a um membro proveniente da comissão técnica do Ístanbul. De acordo com a própria matéria, o quarto árbitro proferiu “Aquele preto ali. Vá lá e verifique quem é. Aquele preto ali. Não dá para agir assim”.
Não se tem informações sobre o termo utilizado, se foi de fato pejorativo e jocoso ou se foi apenas descrevendo a cor de pele para facilitar a identificação do camaronês que estava insatisfeito com um lance específico no jogo. Se de fato o quarto árbitro utilizou o termo em inglês, “that black men”, então o termo não é encarado como pejorativo, o que seria diferente de se usar “nigro”, que de fato é um termo carregado historicamente de conotação racista.
Mas independentemente do que vão concluir a partir disso, vou partir da hipótese de que o camaronês da comissão técnica de Ístanbul tenha se irritado com a simples descrição da sua cor de pele. Isso não seria no mínimo incoerente ao gerar toda essa exasperação sentimentalista em cima do caso? Se você observar as narrativas progressistas em cima de qualquer caso que queiram impor narrativa de racismo, a primeira coisa que fazem é destacar a cor de pele dos envolvidos em descrição patente para sustentar narrativas. Quando ocorreu o caso do Carrefour, todas as manchetes de todos os jornais da grande mídia destacavam que um homem negro foi morto por dois seguranças brancos. Por que então nesses casos é legítimo se referir e citar a cor de pele dos envolvidos, mas no caso específico da arbitragem não?
Perguntar não ofende e prudência nunca faz mal a ninguém. Que o racismo seja combatido, mas com o uso da racionalidade, não com a exasperação sentimentalista tóxica que só compromete uma análise mais apurada e justa de cada caso concreto. Não é pelas narrativas e pela teatralização que se combate casos de racismo.
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