A queda na Taxa Selic anunciada pelo Banco Central do Brasil no último dia 12 de dezembro levou ao menor índice (7% ao ano) desde sua criação. Isto inundou a mídia com reportagens e explicações sobre o funcionamento desta taxa que é a principal bússola da economia brasileira e influencia diretamente desde o sistema bancário até as classes mais humildes da população brasileira.
O governo se vale dela para controlar os índices de inflação e incentivar ou retrair o consumo no mercado doméstico. Uma Selic baixa significa menores custos para os agentes econômicos e o consequente desenvolvimento da economia, com o aumento do consumo. Com mais pessoas gastando, a tendência é que a inflação se eleve. Já uma Selic alta faz o efeito inverso: menos pessoas gastam, a atividade econômica se retrai – geralmente levando a demissões – e os preços gerais (inflação) tendem a cair. Seu cálculo é baseado em especulações do mercado financeiro que se modificam diariamente com a influência da globalização.
Por outro lado a mídia não dá tanto destaque para uma outra sigla que é pouco conhecida da população, mas não deixa de ser importante: a CDI – também conhecida como DI – que significa Certificados de Depósitos Interbancários. Esta taxa foi criada exclusivamente para manter a liquidez em negociações envolvendo instituições financeiras. Por determinação do Banco Central, os bancos precisam fechar seus caixas diariamente com saldo positivo para funcionar, mas muitas vezes pode ocorrer alguns desequilíbrios neste sentido caso houve mais saques que depósitos. Uma das principais opções que uma instituição financeira pode fazer é se valer de uma operação de curtíssimo prazo que consiste em pegar um empréstimo das CDIs de outro banco que serão pagos com juros já no dia seguinte.
Agora que já explicamos o que cada uma destas siglas significa, vale fazer algumas relações para compreender as razões de a Taxa Selic ser mais conhecida da população em geral do que a CDI, apesar de ambas terem índices praticamente idênticos. Em 2016, a taxa acumulada do CDI foi de 14%, enquanto a Selic acumulada no mesmo ano alcançou 14,18%. Em primeiro lugar, a Selic é usada pelo governo para controlar a inflação e incentivar investimentos no país em caso de uma economia desaquecida, enquanto a CDI é utilizada apenas em transações bancárias. Isso já é motivo para que a primeira tenha maior cobertura midiática, certo? Mas é importante deixar claro que a importância da CDI não pode ser subestimada.
Quando a Selic é maior que o CDI, um banco pode tomar emprestado de outro (via CDI) e aplicar na Selic, o que gera ganho financeiro. Mas, o mercado percebe está manobra e quando outros bancos passam a ter a mesma atitude os juros do CDI aumentam e se equivalem a Selic. Outra relação importante diz respeito ao risco dos investimentos. Quando se investe em títulos públicos federais que seguem diretamente o índice da Selic, o nível de risco é quase zero já que você está emprestando dinheiro ao governo brasileiro que não vai falir ou dar um calote.
Já quando se opta por comprar títulos emitidos por bancos indexados em CDI (lembrando que não se pode investir nesta taxa diretamente, já que é exclusivo do sistema bancário), o empréstimo é para instituições bancárias, o que é um risco considerado maior. Logicamente que a chance de um Itaú ou Bradesco quebrar é pequena e portanto deve-se tomar cuidado ao fazer essa operação com bancos pequenos, já que o risco de um suposto calote é maior. Mas lembre-se que os CDI são lastreados nos títulos federais e por isso estão ligados diretamente com a taxa Selic.
Declarações recentes de membros da cúpula econômica do governo federal dão mostras de que na próxima reunião o Copom deve baixar ainda mais a Selic, principalmente se o governo conseguir aprovar a Reforma da Previdência. Mas, apesar de ser uma boa notícia, a taxa real da Selic soma quase 3% e é a quarta mais alta do mundo, atrás apenas da Turquia, da Rússia e da Argentina. A CDI, como ficou claro, vai na rabeira desta Selic alta.