É conhecido o ditado de que há um fundo de verdade mesmo nas coisas falsas, como há um fundo de bondade mesmo nas coisas más. Indo além, podemos dizer que há um fundo de comédia mesmo nas coisas trágicas.
Na tragédia da corrupção que se implantou no país, ocorrem por vezes lances cômicos, ou quase. Os executivos da Odebrecht, no seu esquema secreto de doações (legais, via caixa 2 ou simplesmente propinas), para dificultar a identidade dos destinatários do dinheiro, os apelidavam, como vimos nas planilhas apreendidas pela Polícia Federal.
Apelidos, ali os há evidentes, dedutíveis e misteriosos (aliás, como os nomes das operações da própria PF). Vamos a alguns:
Atleta — É o apelido de Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas. Talvez por ser sua carreira política algo assemelhado a uma corrida de obstáculos. Hoje, por exemplo, o senador precisa vencer nove processos no Supremo Tribunal Federal para continuar sua trajetória política. Verdadeiro atletismo.
Avião — Assim aparece a deputada Manoela D’Ávila, do PCdoB do Rio Grande do Sul, nas listas da empreiteira. Não é difícil adivinhar por quê. O vulgo diz de uma bela mulher, de curvas generosas, caso da deputada, que é “um avião”.
Bruto — É a alcunha do deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Talvez pela prepotência. Jungmann já chegou a trocar tapas com seguranças do Congresso, algo que sublinha bem o apelido.
Cacique — É como surge o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Talvez por ter presidido a Funai. Talvez por ser um eterno líder de governo no Senado, seja qual for o governo. Caciques, como sabemos, são vitalícios.
Candomblé — Esse é fácil. É o apelido do ex-prefeito de Salvador Edvaldo Brito, defensor das religiões afro.
Caranguejo — É como aparece o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro. Ninguém ainda matou a charada. Só mesmo quem o batizou.
Comuna — Trata-se do deputado Daniel Almeida, do PCdoB da Bahia. Fácil.
Drácula — É o senador Humberto Costa, do PT pernambucano. Esse apodo também é mistério, como o de Eduardo Cunha.
Escritor — É o apelido do ex-senador José Sarney, do PMDB do Maranhão. Fácil. Sarney pertence à Academia Brasileira de Letras, logo, presume-se que seja escritor. Ele, pelo menos, acha que é.
Eva — Assim é conhecido na Odebrecht o deputado Adão Vilaverde, do PT gaúcho. Deve ser a clássica brincadeira com o machismo gaúcho, transmutando o Adão em Eva.
Falso — Apelido do ex-governador Cid Gomes, do PPS cearense. Na Odebrecht (como em outros lugares) não devem tê-lo em alta conta.
Grego — Assim aparece o deputado Jorge Picciani, do PMDB carioca. Mistério. Se ao menos o apelido fosse Italiano, seria mais lógico.
Lindinho — É assim chamado nas listas do pixuleco o senador Lindberg Farias, do PT carioca. Jovem e vaidoso, deve vir daí o codinome. Ou das primeiras letras do nome.
Múmia — A Odebrecht assim apelidou o senador Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá. Jovem, não casa com o apelido, a menos que ele se refira às ideias marxistas que o senador parece admirar.
Ovo — É o ex-governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, do PSD. Deve vir o apelido do mais famoso dos ovos, o de Cristóvão Colombo.
Passivo — É como se conhece o ministro petista Jacques Wagner nos subterrâneos da Odebrecht. Talvez por sua proverbial indolência.
Pelé — É o deputado Nelson Pellegrino, do PT da Bahia. Esse é fácil.
Princesa — A ex-governadora maranhense Roseana Sarney. Ela acha que é.
Proximus — É como é chamado o ex-governador Sérgio Cabral, do PMDB carioca. Apelido também misterioso.
Viagra — É o codinome de Jarbas Vasconcelos Filho, do PMDB pernambucano. O apelido deve se referir ao pai, na casa dos 70 anos, mas com forte inclinação por belas jovens.
Whisky — Assim é referido o senador do PMDB paraense Jader Barbalho, nas planilhas da Odebrecht. Também não é difícil imaginar as razões.
Quando será devolvida a vergonha dos brasileiros? Com o PT, nunca
Não é preciso ser economista para sentir a gravidade da encapelada crise em que navegamos. Com exceção do setor primário, ou parte dele, beneficiado pela valorização do dólar, e que desenvolveu alta tecnologia e obteve produtividade excelente, mesmo do ponto de vista internacional, tudo o mais é sofrimento. Agricultores e pecuaristas sustentam a balança comercial brasileira há anos, embora sejam odiados pelas esquerdas, e por elas chamados de “latifundiários”. Não raro têm suas propriedades invadidas e depredadas pelos marginais do MST, sob o olhar conivente do governo federal, que os financia, e sob a atenção acovardada dos governadores, que os temem. A indústria está em franca queda, desde 2011, e dificilmente se recuperará num horizonte de dois ou três anos. O setor terciário não fica atrás, e vê cair suas vendas, mês após mês.
Fábricas estão sendo fechadas, e com isso, uma longa cadeia sofre os efeitos, a partir da dispensa de operários, passando pelo impacto nos transportadores e distribuidores até às revendedoras finais. Recentemente fechou-se, no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), a Cecrisa, primeira indústria ali instalada, em 1978. Depois de quase 40 anos de funcionamento ininterrupto, viu-se obrigada, pela crise, ao fechamento e à dispensa de duas centenas de empregados.
Assim vem ocorrendo em todo o Brasil, lançando na angústia centenas de milhares de chefes de família, sem contar os jovens que chegando agora ao mercado de trabalho não encontram portas abertas, sentindo na garganta, a cada dia de frustração, um amargo de quem se vê sem um lugar no mundo e sem direito à esperança. Os que mantêm seus empregos também não estão tranquilos. As barbas dos vizinhos pegam fogo.
Além disso, uma inflação persistente, e crescente, está a cada dia roubando uma parcela maior dos salários, que em tempo de crise ninguém pensa em aumentar. O Brasil é uma área presa num triângulo onde um lado é a incompetência, outro a ideologia e outro a corrupção, cada qual desviando uma parcela de recursos que fazem falta na saúde, na educação, na segurança e na infraestrutura, além de outros setores.
O caos na saúde é tão visível, que chega ao escândalo, com epidemias de tantas gripes, que já pedem um dicionário. Com falta de vacinas. E com tal carência de leitos nos hospitais, atendimento médico nos ambulatórios e medicamentos nas farmácias populares que todos os dias o caos fornece às emissoras de televisão material para preencher com fartura seus noticiários.
Na segurança, chegamos ao recorde mundial de 60 mil assassinatos por ano, à volta ao cangaço de um século atrás, na tomada de cidades interioranas para assalto a bancos, no tráfico intenso de drogas que uma polícia desprestigiada pela ideologia do governo federal não tem como enfrentar com sucesso, até porque os bandidos têm uma dose de proteção governamental que não existe em nenhum lugar civilizado. Aqui facínoras têm tantos “direitos humanos” que é difícil enumerá-los, direitos que sistematicamente são negados às suas vítimas. Isso é da ideologia: bandidos pertencem, no pensar torto dos esquerdistas do governo federal, às “classes oprimidas”. E os opressores, caro leitor, somos nós, que trabalhamos a cada dia, ganhamos salários inferiores aos de outras nações de nosso porte e pagamos mais impostos que quaisquer outros cidadãos do mundo.
Poderíamos falar muito mais das mazelas dos que estão no governo. Mas basta, para encerrar, lembrar que neste mesmo momento, num quarto de hotel de Brasília, um ex-presidente, agindo como se presidente fosse, negocia nosso futuro com deputados que votarão o impedimento de sua afilhada presidente da República. Se o futuro que se vende é nosso, e a venda é em benefício deles, os que tomaram de assalto nosso Brasil, a moeda que compra também é nossa, são dinheiros e cargos públicos. Quando será devolvida nossa vergonha?