Brasil pode ter sido habitado por povos aborígenes há 11,5 mil anos

Olá, eu sou a Isabela Azevedo, e está começando mais um Na Trilha da História! Neste episódio nós vamos falar sobre o que havia no território que abriga hoje o Brasil antes da chegada das caravelas portuguesas. Nosso entrevistado é o jornalista Reinaldo José Lopes, autor do livro “1499 – O Brasil antes de Cabral”, lançado pela editora HarperCollins. Ele conta que na cidade de Lagoa Santa, em Minas Gerais, arqueólogos conheceram Luzia, o ser humano mais antigo das Américas.

Sonora: “Se ela não é o ser humano mais antigo das Américas, certamente é um dos mais antigos. O esqueleto humano tem 11,5 mil anos mais ou menos.”

Uma reconstituição do rosto dela feita a partir dos ossos da nossa ancestral surpreendeu os pesquisadores. Em vez de feições indígenas, Luzia tinha aparência similar à dos africanos ou dos aborígenes australianos. A descoberta levou os cientistas a repensar sobre os primeiros povos que chegaram às Américas.

Sonora: “Talvez tenham tido duas grandes migrações para as Américas. Primeiro, esse povo da Luzia, com este aspecto australo-melanoide, que lembra a Austrália e a Melanésia. E, só depois, o pessoal com feição do Norte da Ásia, meio siberiano, que seriam os ancestrais da maioria dos indígenas de hoje. Essa é uma das grandes hipóteses sobre o povoamento original do nosso continente.”

Além do relato sobre Luzia, são muitas as histórias do pré-Brasil que estão sendo reescritas. Em vez de uma terra inexplorada, sabe-se, hoje, que nosso território da época anterior ao ano de 1500 tinha sociedades organizadas, produção cultural e até redes de comércio.

Sonora: “Xingu, que ainda é um dos grandes centros dos povos indígenas do Brasil, era muito curioso. A partir do ano 800 da Era Cristã até a chegada dos europeus, você tinha aldeias que eram pelo menos 10 vezes maiores do que as atuais. Então, em vez de você ter algumas centenas de indivíduos, você tinha milhares, chegando a bater 10 mil em algumas aldeias, o mesmo de uma cidade medieval de porte médio. Segundo lugar, eles tinham uma organização do território muito clara. Então, eles construíam estradas muito largas, com quilômetros de extensão. Construíam pontes, reservatórios artificiais para armazenar peixes e tartarugas. E havia um ritual de alianças entre esse pessoal do Xingu.”

Reinaldo também lembra que só na Amazônia, foram domesticadas mais de 80 espécies diferentes de plantas, incluindo algumas muito importantes para a nossa alimentação de hoje, como o cacau, o abacaxi e a mandioca.

Sonora: “A gente pensava a Amazônia como uma mata, entre aspas, 100% virgem, mas isso é uma coisa enganosa. Quando a gente olha a distribuição de espécies que parecem ser nativas na floresta, elas têm muito mais espécies úteis para o uso humano do que a gente extrairia numa floresta natural, O que significa, na verdade, que, antes mesmo de ter uma agricultura propriamente dita, os caçadores-coletores já estavam moldando a floresta para os interesses deles.”

Pesquisar sobre a pré-história brasileira não é fácil. Nessa área, há mais dúvidas do que certezas. Por que estudar esse período, então, Reinaldo?

Sonora: “Pra genética está muito demonstrado. Pelo menos 20% a 30% dos brasileiros hoje ainda têm algum DNA indígena. Em segundo lugar, porque essas sociedades complexas conseguiram sobreviver sem o nível de destruição ambiental que a gente está vendo hoje. Estudar o que eles fizeram talvez traga soluções para os nossos problemas ambientais atuais.”

Esta foi a versão reduzida do Na Trilha da História! O episódio completo tem 55 minutos e traz, além da entrevista na íntegra, com o escritor Reinaldo José Lopes, músicas que têm tudo a ver com o nosso tema! Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria. E se você quiser entrar em contato com a gente, nosso e-mail é culturaearte@ebc.com.br. Até semana que vem, pessoal!!

Na Trilha da História: Apresenta temas da história do Brasil e do mundo de forma descontraída, privilegiando a participação de pesquisadores e testemunhas de importantes acontecimentos. Os episódios são marcados por curiosidades raramente ensinadas em sala de aula.

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