Hamas é uma dissidência da Irmandade Mulçumana, criado após a primeira Revolta Árabe (Intifada), em dezembro de 1987. Logo após, em agosto de 1988, foi anunciada sua Carta Constitutiva, na qual o Hamas defende a criação de um Estado Islâmico na Palestina, no território hoje destinado pela ONU à Israel.
Durante os 13 anos de governo petista, tanto Lula quanto Dilma mostraram seu viés antissemita, aprovando medidas contra Israel. Isso inclui uma doação de 10 milhões de dólares para o Hamas.
Ademais, no Preâmbulo de seu documento fundacional, o Hamas afirma que “Israel existe e continuará existindo até ser destruído pelo Islã, como outros foram destruídos antes”.
O grupo tem duas faces. A militar, composta pelas brigadas Al-Qassam, que controlam hoje Gaza e cujo principal objetivo é promover a luta armada contra Israel. A outra face é um simulacro de partido político em busca (nunca encontrada) de programas de bem-estar social. Em 2006, o Hamas venceu as eleições parlamentares palestinas, obtendo a maioria do Conselho Legislativo, opondo-se à facção rival Fatah, partido nacionalista fundado em 1959, pelo líder palestino Yasser Arafat, e chefiado hoje por Mahmoud Abbas. Com sua vitória não reconhecida pelo grupo opositor, o Fatah passou a comandar a Cisjordânia e o Hamas a Faixa de Gaza. Diferentemente do Hamas, o Fatah concorda com a criação dos dois Estados: Israel e Palestina.
Por sua longa história de radicalismos e sua recusa em renunciar à violência, o Hamas é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia, Canadá, Japão e muitos outros países. Hoje seus principais apoiadores são o Qatar e a Turquia, e sabe-se que, em termos políticos, o Hamas perdeu grande parte de sua sustentação e cada dia fica mais isolado. O governo iraniano e os libaneses do Hizbullah, alinhados com o presidente sírio Bashar al- Assad, se afastaram, tão logo o Hamas perdeu o apoio da Síria, antes sua maior aliada. O Egito foi outro a virar as costas para o grupo radical, após a queda da Irmandade Mulçumana, no ano passado. Para se tornar um ator global legítimo e, por conseguinte, ser ouvido no plano internacional, o grupo islâmico deve aceitar as condições propostas pela comunidade internacional, quais sejam: reconhecer Israel, aceitar os acordos anteriores e renunciar à violência.
Mesmo com apoio reduzido, e sob um forte isolamento político, o Hamas é uma fortaleza econômica e militar. De 2009 a 2014, seu orçamento estimado passou de US$ 428 milhões para US$ 894 milhões (quase 2 bilhões de reais), ou seja, cresceu 108%. Suas receitas vêm de doações de países como o Qatar, de grupos mulçumanos sediados no exterior, de simpatizantes e da Autoridade Palestina. Ademais, o grupo cobra impostos de empresários que atuam em Gaza para a entrada e saída de produtos.
Contudo, esses recursos não vão para a construção de escolas, enfermarias ou hospitais, nem mesmo para atenuar a penúria do povo. Os ativos são direcionados para a construção de uma cidade subterrânea cuja função é matar. Existe abaixo da Faixa de Gaza, em direção ao território de Israel, uma cidade subterrânea, invisível, ameaçadora, composta por um calidoscópio de dezenas de túneis com eletricidade, sistema de telefonia, trilhos e fortalezas de armamentos. Muitos deles têm suas entradas em casas normais de famílias com mulheres e crianças. Outros são escavados passando ou partindo de escolas, inclusive mantidas pela ONU. São por esses túneis que israelenses são sequestrados e mortos. Por meio deles são feitos os ataques que, ultimamente, já deixaram cerca de 1670 mortos em Gaza. Dai por que, o objetivo principal da mais recente ofensiva militar israelense é a destruição desses túneis.
O Hamas, portanto, se esconde sob a terra e de lá seu porta-voz, Fawzi Barhoum, disse no final da semana passada que o grupo “continuará a resistir até que os seus objetivos sejam atingidos”. Quais? Destruir Israel em matar a sua gente. E até lá o que faz o exército israelense se não defender seu território e povo? Talvez conclamar a todos a rezar, haja vista que em uma guerra, ninguém ganha, especialmente nessa onde as concessões passam pela aceitação mútua, que nunca chega, e o principal objetivo não é a coexistência pacífica e, sim, varrer da face da terra um povo que mesmo em pequeno número e em tão minúsculo território consegue ser um exemplo de democracia, em região conturbada e ditatorial, e de fraternidade aos estender seus braços para árabe, muçulmanos, cristãos, drusos, samaritanos e tantas outras nacionalidades – que ali convivem pacifica e harmoniosamente.
Talvez o mundo, no futuro, não perdoe o Hamas por matar sua gente e seus vizinhos, e por obrigar Israel a uma guerra sem fim. Guerra esta que já nasceu superada quando, em 1947, a ONU recomendou a divisão da Palestina em um estado judeu e um estado árabe.
Maristela Basso é Advogada e Professora de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP.