O brutal assassinato – e algum não é? – da repórter Alison Parker, de 24 anos, e do cinegrafista, Adam Ward, de 27 anos, ambos do canal WDBJ-TV, nos EUA, trouxe à tona a velha discussão sobre a posse e o porte de armas naquele país, e por óbvio, tomou nossos noticiários, que prontamente disponibilizaram seus “especialistas” para culpar a arma e praticamente inocentar o facínora simplesmente pelo mesmo ser negro e gay e ter alegado, sem qualquer comprovação, ter sofrido preconceito.
Outro efeito imediato foi o afloramento do antiamericano bastante comum na terra do samba, carnaval e futebol. Dedo em riste, bradam que o EUA é um país de psicopatas, um país violento, que a sua paixão por armas os levaram a isso, que deveriam servir de exemplo de como não deve ser uma sociedade. Se fôssemos nos deixar levar por esses comentários chegaríamos à imediata conclusão que bom mesmo é o Brasil com seus mais de 50 mil homicídios anuais, não é mesmo?
Na verdade é que há para grande parte das pessoas um profundo desconhecimento geral sobre a questão da criminalidade nos EUA por pessoas que tomam manchetes que beiram o sensacionalismo como verdades absolutas e, portanto, é imprescindível desmistificar esse assunto com dados e não com apelos emocionais. E convenhamos, esse é o verdadeiro problema daqueles que advogam contra as armas pois seus apelos emotivos, muitas vezes coléricos e biliares, não resistem a nenhuma análise mais aprofundada.
Nas décadas de 60 e 70 os americanos experimentaram um grande crescimento no número de assassinatos que chegou em 1975 ao patamar 9,7 homicídios por 100 mil habitantes. As políticas estaduais para conter a onda de homicídios foram bastante claras e se resumiram à tolerância zero aos crimes e liberação ainda maior ao direito de possuir e portar armas. O resultado em três décadas foi a redução dos homicídios à níveis comparados à década de 40 e continuam caindo ano após ano.
E o Brasil? Também na década de 70/80 começou a experimentar um significativo aumento da criminalidade violenta e adotou de forma nacional a fórmula progressista de que cadeia não resolve, que crime um problema socioeconômico (desigualdade) e que deveria haver forte restrição ao porte e a posse de armas. O resultado dessa política desastrada é que saímos de uma taxa de 11 homicídios por 100 mil habitantes para o inaceitável patamar de quase 30 homicídios por 100 mil habitantes. E tem gente que tem a cara de pau de afirmar que o Estatuto do Desarmamento salvou sei lá quantas mil vidas.
Mas nesse momento alguém estará dizendo: “mas dentre os países desenvolvidos os EUA têm a maior taxa de homicídios exatamente por conta do fácil acesso às armas”. Será mesmo? Esqueçam as capas dos jornais e vamos aos números. A Suíça possui a taxa de 45.7 armas por 100 habitantes e uma taxa de homicídios próxima de zero. A França possui 31,2 armas e 1 homicídio por 100 mil habitantes. O Canadá é o décimo país mais armado do mundo e adivinhem só…. Tem baixíssimas taxas de criminalidade violenta! Como último exemplo, para quebrar o paradigma de que homicídios são frutos de problemas sociai, peguemos o nosso vizinho Uruguai que é o 8º país mais armado do mundo e possui taxa de 6 homicídios por 100 mil habitantes. O Brasil, para efeito de comparação, está 72º na relação armas/cidadãos. Sim, é verdade que os EUA tem taxas maiores de criminalidade dentre os países desenvolvidos mas é MENTIRA que isso se deve à existência de armas de fogo nas mãos do cidadãos.
Tais ponderações que trago de forma absolutamente resumida neste artigo são amplamente embasadas por estudos e literatura disponível. Cito abaixo dois trechos extraídos de livros já disponíveis em português que tratam seriamente o assunto e merecem ser lidos:
“Um fato inconveniente, ignorado com frequência pelos defensores do controle de armas, é que muitos países com taxas muito altas de homicídios aplicaram o banimento completo, ou quase completo, às armas em seus territórios. Países grandes como a Rússia e o Brasil possuem taxas de homicídios maiores que a dos EUA”. John Lott Jr., Preconceito Contra as Armas, Vide editorial;
“Não há nenhum sinal em nenhuma das evidências, nem nos números de homicídios, nem no uso registrado de armas de fogo nos crimes, e nem no tratamento do Parlamento para com os ingleses armados, de que o uso de armas de fogo tenha aumentado o número de homicídios ou a criminalidade em geral”. Joyce Lee Malcolm, Violência e Armas – a experiência inglesa, também da Vide Editorial.
Afirmar que o problema da criminalidade violenta é fruto da existência das armas na sociedade – tese abandonada até pela ONU em seu estudo sobre homicídios no mundo realizado em 2011 – faz tanto sentido quanto dizer que a obesidade se deve aos talheres e que carros saem por aí bêbados causando milhares de mortes por ano. Na cabeça desnorteada dos desarmamentistas o homem é apenas um objeto usado pelas malvadas armas e, portanto, as armas merecem ser condenados e os facínoras justificados.
Bene Barbosa: Presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento.