Dorian Gray curtiu isso

Dorian Gray não morreu; destruindo o seu quadro; ele atravessou os séculos e se faz presente em cada ser que possui uma conta no Instagram. Explico: o culto exacerbado da aparência acima de todas as coisas, tendo o corpo como um totem escultural para idólatras já configura um belo quadro expositivo. Basta caçar qualquer perfil para sacar. São dezenas de “perfeitos e perfeitas” em um embasbacamento fútil de comentários elogiosos. É como se houvesse centenas de Lordes Henrys incentivando o desastre narcísico.

Dorian Gray habita em cada um de nós.Ele triunfou, e não é necessário ser belo como ele era para ficarmos encantados com nós mesmos (os filtros ajustam isso para você). Assim, tal qual um vírus de fácil contágio, nos tornamos doentes. Eu, você, eles e elas, todos somos belos. E ai de quem discordar. Essa necessidade de ser belo para se alavancar a autoestima, como se a mesma fosse constituída só de beleza, nos tornou essa personagem de Oscar Wilde. Corrompemos a verdade e o real. O virtual é o essencial, e o essencial é o que é visível aos olhos. Dessa forma, consumimos a verdade multiplicada por “likes” gentis. É fake! É feio que dói enganar-se até acreditar na própria mentira.

E o nosso Dorian Gray interior segue resistente ao heróico ato de esfaquear o quadro. Não é preciso se preocupar com as nossas almas encardidas e defeituosas; a função delas é absorver as nossas imperfeições; é envelhecer por nós. E mais, permita-me, elas não podem ser fotografadas pelos nossos celulares. Não postamos ela no Instagram.


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