Ex-governador Garotinho alega que foi agredido na prisão, mas na verdade ele se autolesionou

A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou à Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio que Anthony Garotinho se autolesionou dentro de sua cela na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. O político alega que foi agredido durante a madrugada desta sexta-feira por uma pessoa que estava com um porrete. A vara abriu um procedimento para apurar o caso e decidir se Garotinho será transferido para outra unidade prisional.

O presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal Do Rio, Gutembergue de Oliveira, afirmou que as imagens das câmeras de segurança desmentem a versão do ex-governador Anthony Garotinho de que alguém entrou na cela para agredi-lo. Oliveira disse que o que Garotinho alegou é delírio ou mentira.

– As câmeras dizem mais do que os servidores. Não existe a versão do Garotinho nas câmeras. O Garotinho teve um delírio. Ele está numa galeria sozinho, na cela sozinho. É impossível que alguém tenha entrado na galeria e feito o que ele falou. Ele está indo pro IML, que vai constatar que essas foram autolesões para justificar a intenção dele – afirmou Oliveira, que foi à 21ª Delegacia de Polícia (Bonsucesso) acompanhar o depoimento do agente penitenciário que estava de plantão na galeria onde estava o ex-governador.

Garotinho esteve na 21ª DP (Bonsucesso) para prestar depoimento sobre o caso. À polícia, ele contou que quando chegou à prisão foi encaminhado à cela A1, com outros detentos, no segundo andar, onde ficam os presos com nível superior. Mas que no dia seguinte, na quinta-feira, um funcionário da cadeia disse que, por ordem judicial que não foi apresentada, ele seria transferido para outra cela. Segundo o ex-governador, ele foi levado para uma cela vazia em um corredor com acomodações para detentos todas vazias.

Nesse local, ele contou que foi acordado de madrugada por um homem, “de aproximandamente 1,70, branco, cabelos alourados, sem baraba, trajando calça jeans, sapato, e camisa pólo azul portando um bastão, parecido com um taco de beisebol”. E que o homem teria dito: “desce daí.Você gosta muito de falar, não é?”, seguido de um golpe no joelho que teria feito ele se curvar de dor.

Em seguida, ainda de acordo com o depoimento de Garotinho, o homem puxou uma pistola de cor prateada e disse: “Eu só não vou te matar para não sujar o pessoal daqui do lado”, apontando em direção à galeria onde estão os presos da Lava-Jato.

Antes de sair, segundo o ex-governador, o homem disse ainda: “vou te dar uma lembrança” e pisou no pé ele. E antes de trancar a cela, teria ordenado para que o ex-governador parasse de falar.

Garotinho também contou que pediu para ser atendido pelo ex-secretário de Saúde do Rio Sergio Côrtes, que chegou logo em seguida e imobilizou o joelho do ex-governador e receitou um anti-inflamatório, segundo o depoimento. Côrtes é aliado do ex-governador Sérgio Cabral. Ele está preso sob a acusação de receber propina e trabalha na enfermaria da prisão de Benfica.

Ao ser perguntado a que atribui a agressão, o ex-governador disse que “sem querer ser leviano, pelas palavras ditas pelo agressor, há uma retaliação à alguma coisa que tenha dito”. Ele contou à polícia que há pouco tempo conversou com o promotor Claúdio Calo e que teria feito várias denúncias sobre órgãos estaduais, incluindo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). E lembrou ao delegado que quando era secretário de Segurança “teve sério desentendimento com atual secretário de admnistração Penitenciária, quando este era comandante do 4º BPM, fato que oacassionou a demissão do comandante”.

A VEP apura ainda se Garotinho possui nível superior, uma vez que o presídio em que ele se encontra é para presos com essa graduação. A Cadeia Pública é também unidade pela qual passam todos os internos que dão entrada no sistema, mas eles ficam apenas alguns dias e logo são levados para outro local.

O diretor da Cadeia Pública José Frederico Marques, Fábio Ferraz Sodré, prestará depoimento na 21ª DP na próxima segunda-feira. Ele entregará aos investigadores as imagens das câmeras de segurança localizadas no andar em que Garotinho está. Além dele, outros quatro agentes penitenciários que estavam de plantão também serão ouvidos. Nesta sexta-feira, dois inspetores já foram ouvidos. Eles alegaram que não viram ninguém entrando na cela do ex-governador.

Na última quinta-feira, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR), filha do ex-governador, disse que cobrou responsabilidade de diversas autoridades pela integridade física de seu pai. De acordo com ela, a ida do ex-governador a Benfica representava uma “ameaça”.

No mesmo presídio, estão o também ex-governador Sérgio Cabral, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, e os deputados Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB. Eles são rivais políticos de Garotinho.

Em um vídeo publicado em suas redes sociais na quarta-feira, Clarissa afirmou que o ex-governador foi informado por um agente do presídio de que corria risco de vida.

“Ontem, quando voltaram para a cadeia, liguei para o meu pai e disse que estava preocupada, porque a totalidade das denúncias que levaram essa quadrilha do PMDB para a cadeia foi ele quem fez. Esse agente penitenciário já tinha passado a informação de que Cabral teria dado a declaração de que que faria xixi na sepultura do Garotinho, uma clara ameaça à vida dele. Garotinho preparou um ofício para que Governador Pezão aumentasse a segurança dele porque tinha sido ameçado”, contou Clarissa.

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