Há oito meses sem receber e com uma dívida que já chega a R$ 200 milhões, o grupo de empresas que fornece quentinhas aos 50 presídios do estado ameaça suspender o serviço.
Quinze firmas são responsáveis pela alimentação de aproximadamente 51 mil detentos, entre eles o ex-governador Sérgio Cabral, que está na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8). Segundo algumas das companhias, pode faltar comida neste Natal.
José Alencar, diretor executivo da Associação das Empresas Prestadoras de Serviço do Estado do Rio, afirmou nesta quinta-feira que “a situação chegou a um ponto crítico”.
— As empresas não têm mais como pagar seus fornecedores. Quando elas podem parar de fornecer comida aos presídios? A qualquer momento. Amanhã, depois. Pode faltar, sim, comida nos presídios neste Natal. Você sabe o que isso pode significar? O caos no sistema penitenciário do Rio. A situação é realmente muito grave — disse Alencar.
ASSOCIAÇÃO COBRA NEGOCIAÇÃO
Procurada para comentar o assunto, a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) afirmou que uma parte da dívida foi paga nesta quinta-feira, mas não deu detalhes. A associação das empresas prestadoras de serviços não confirmou a informação. Alencar destacou que o Palácio Guanabara deve procurar imediatamente as fornecedoras de quentinhas para negociar.
— Estamos propondo que o governo apresente uma alternativa, como estabelecer um calendário para parcelar a dívida. É uma saída. O problema é que ninguém de lá discute isso com a gente. Agora, os empresários estão sem pagar seus fornecedores.
Ainda de acordo com Alencar, empresas que prestam serviços para as polícias Civil e Militar e para as secretarias de Educação e de Saúde passam pela mesma situação:
— Nenhuma empresa que trabalha para o Estado do Rio vem recebendo. Há problemas na Polícia Militar, nos hospitais. Começa a faltar alimento até nas creches.
Dois empresários ouvidos pelo GLOBO, disseram que, duas semanas atrás, o estado fez um pagamento.
— Este último repasse do governo às empresas foi feito para pagar dívidas de 2015 — afirmou um deles.
Segundo um diretor comercial de uma outra empresa, o estado ainda deve cerca de R$ 80 milhões referentes a serviços prestados em 2015:
— Ninguém quer suspender o fornecimento de quentinhas, comprometer a alimentação dos presos. Se faltar comida no Natal, não será por vontade do empresário.
Na semana passada, o governo Luiz Fernando Pezão disse que estava buscando recursos para pagar as dívidas. A situação é tão grave que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) aprovou um socorro ao Palácio Guanabara, transferindo R$ 160 milhões para a alimentação de presos, menores infratores e servidores da Seap e do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). O dinheiro é proveniente do Fundo Especial de Modernização do TCE.