Lava Jato chega à Prefeitura do Rio: ex-secretário de Obras é preso

As investigações da Lava Jato chegaram à Prefeitura do Rio de Janeiro. Um ex-secretário municipal de Obras foi preso acusado de participar de um esquema de R$ 30 milhões em propina quando integrava a equipe do então prefeito Eduardo Paes, do PMDB.

O homem que esteve à frente de grandes obras do Rio nos últimos anos também se preocupou em construir um patrimônio pessoal financiado pela corrupção, dizem os investigadores. Alexandre Pinto, secretário de Obras nas duas gestões do ex-prefeito Eduardo Paes, do PMDBx, foi preso na manhã desta quinta-feira (3) em casa, na Zona Oeste da cidade.

O ex-secretário é acusado de fazer parte de um esquema que exigiu R$ 30 milhões em propina em dois contratos: a despoluição de córregos da bacia de Jacarepaguá, e a construção da Transcarioca, corredor expresso que liga o aeroporto internacional à Barra da Tijuca. A obra custou quase R$ 2 bilhões.

Na época das Olimpíadas, o ex-prefeito elogiou o então secretário.

“Acho que a gente tem um herói nessa realização dessas Olímpiadas, que é o nosso secretário Alexandre Pinto que está aqui, que aguenta o tranco com muita valentia”, disse então Eduardo Paes.

O juiz Marcelo Brêtas, da Lava Jato no Rio, determinou a prisão de outras nove pessoas nesta quinta no Rio e em Pernambuco. São servidores públicos que ganhavam propina para fingir que fiscalizavam as obras, lobistas envolvidos na liberação de verbas do governo federal, e uma advogada. No escritório de Vanuza Vidal Sampaio, a polícia encontrou vários pacotes com esmeraldas. Em um deles, há uma anotação: R$ 501 mil.

A investigação se baseou no acordo de leniência da Carioca Engenharia. Diretores e executivos da empresa contaram que Alexandre Pinto exigia 1% do valor de cada contrato; 3% iam para as equipes de fiscalização das obras e mais 1% para agentes públicos ligados ao Ministério das Cidadesx.

Também revelaram que havia pagamento de propina para pessoas ligadas ao Tribunal de Contas do município. Os executivos da construtora disseram que o ex-secretário de Obras cobrava pessoalmente a propina e recebia pessoalmente também; que Alexandre Pinto era discreto, mas não na hora de pegar o dinheiro. Os pagamentos ilícitos podiam ser feitos em locais públicos, como padarias e postos de gasolina, desde que ficassem perto das obras.

Um engenheiro da Carioca Engenharia diz ter feito três pagamentos ao ex-secretário de Obras que somam quase R$ 250 mil. Os investigadores disseram que até agora não há nenhuma informação que Eduardo Paesx tenha pedido propina ou sido beneficiado por alguma vantagem indevida.

Na entrevista aos jornalistas, os procuradores responderam se há alguma ligação do ex-prefeito com o esquema.

“O esquema existia na Secretaria Municipal de Obras durante a gestão do ex-prefeito Eduardo Paes, mas as investigações são em relação aos fatos que foram repassados pelos colaboradores e que foram apurados em relação aos pagamentos de propina a esses agentes públicos que estão sendo mencionados hoje. Então, as análises continuam e, no futuro, se tivermos novidades, podemos trazer”, disse o procurador da República Rafael Barretto dos Santos.

Nesta quinta (3), o ex-prefeito Eduardo Paes, do PMDB, disse em nota que Alexandre Pinto é um servidor de carreira e que a nomeação dele não foi política. Eduardo Paes afirmou que, se as acusações forem confirmadas, será uma grande decepção.

É a primeira vez que a Lava Jato encontra um esquema de corrupção em contratos da prefeitura. A força-tarefa diz que é o mesmo usado pelo ex-governador Sérgio Cabralx e afirma: a organização criminosa é ainda maior, porque envolve ainda mais políticos do PMDB no Estado do Rio.

“Dá para perceber a conexão entre os dois esquemas. Era um esquema replicado do governo do estado no município do Rio de Janeiro, exatamente em razão dos dois entes federados serem de alguma forma possuírem agentes públicos de um partido que é o PMDB”, disse o procurador da República Sérgio Pinel Dias.

O que dizem os citados
Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa do ex-secretário Alexandre Pinto e não teve resposta do escritório da advogada Vanuza Vidal Sampaio.

A Carioca Engenharia afirmou que continua com o compromisso de colaborar com a Justiça.

O Ministério das Cidades declarou que ainda não teve acesso ao teor das investigações, mas que já está tomando as providências para apurar os fatos.

O Tribunal de Contas do município não se manifestou.

O PMDB declarou apoio à Operação Lava Jato e defendeu a necessidade de rapidez nas investigações.

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