Yangun (Mianmar), 27 nov (EFE).- Líderes da comunidade islâmica vão pedir ao papa Francisco que interceda em favor da minoria muçulmana rohingya durante a visita de quatro dias que o pontífice iniciou nesta segunda-feira em Mianmar.
“Direi ao papa que peça às autoridades que resolvam o problema rohingya”, disse à Agência Efe Al Haj U Aye Lwin, coordenador do Centro Islâmico de Mianmar, que se reunirá na terça-feira com o papa durante um encontro com líderes religiosos locais.
“As autoridades ouvem o papa como um amigo”, disse Aye Lwin, integrante da comissão formada pelo ex-secretário geral da ONU Kofi Anan para promover a paz e o desenvolvimento no estado de Rakhine, lar tradicional da etnia rohingya no oeste de Mianmar.
Aye Lwin destacou a importância da reunião que o papa manteve hoje com o chefe do exército birmanês, o general Min Aug Hlaing, arquiteto da operação que desencadeou o drama rohingya que persiste em Rakhine, que obrigou mais de 620 mil integrantes desta etnia a buscarem refúgio em Bangladesh
O país vizinho é, precisamente, a segunda e última escala da viagem do pontífice, que na semana passada assinou com Mianmar um Memorando de Entendimento para a repatriação dos refugiados rohingya.
“O Santo Padre pode acelerar o aproximação entre as partes”, disse à Efe o presidente da Conferência Episcopal de Mianmar, o bispo Felix Lian Khaen Thang, que não descartou a mediação papal.
No entanto, o atual cenário político em Mianmar ameaça levar qualquer mediador para um autêntico vespeiro.
Aye Lwin afirma que o drama rohingya faz parte de uma luta interna entre o governo com o exército desde que o triunfo eleitoral da Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla em inglês), o partido da líder birmanesa Aung San Suu Kyi, pôs fim a décadas de poder militar.
“Estamos ainda no processo de transição política, que não terminou”, disse o coordenador do Centro Islâmico de Mianmar, que considera que “a operação militar contra os rohingya foi uma manobra do exército para constranger Suu Kyi”.
“Os militares sabem que Suu Kyi não pode defender em público um grupo muçulmano porque as pessoas não aceitariam”, opinou o líder islâmico, em referência à radicalização registrada em parte da população, que é 90% budista.
O líder muçulmano lembrou que Suu Kyi foi duramente criticada há dois anos porque os muçulmanos votaram em bloco no partido dela nas eleições e os militares e seus aliados, os monges budistas radicais, acusaram-na de querer iniciar a “islamização” do país.
“Não defendo Suu Kyi, mas é preciso entender sua situação”, frisou Aye Lwin, que acrescentou que, quando a comunidade internacional critica líder birmanesa pelo drama humanitário que acontece durante o seu mandato, “os militares ficam mais felizes”.
Após o encontro com o general Hlaing, o papa se encontrará com sua rival política, Suu Kyi, na nova capital do país, Naypyidaw.
O general, por sua vez, postou uma mensagem no Facebook, depois de sua reunião com o papa, garantindo que “há liberdade de culto em Mianmar, que a missão do exército é garantir a paz e não há discriminação” entre as diferentes etnias do país.