Via ISTOÉ
Juiz Sergio Moro, 44 anos, vai passar para a história como o homem que mudou o destino do Brasil. Até o início da Operação Lava Jato, comandada por ele, políticos corruptos e empreiteiras corruptoras trajavam o manto da imunidade.
Dois anos e oito meses depois de iniciada a investigação que abalou o País, 93 pessoas poderosas, incluindo ex-ministros, ex-deputados, tesoureiros do PT e até donos de grandes construtoras, já foram condenadas, mérito de Moro, escolhido pela ISTOÉ como brasileiro do ano na Justiça.
Moro, no entanto, não gosta de ser comparado a super-herói. Em entrevista à ISTOÉ, diz que trabalha em grupo.“Há um trabalho institucional e não um êxito pessoal”. Ele abriu até agora 37 ações penais que já tornaram réus 179 pessoas, incluindo o ex-presidente Lula.
Ao deflagrar a Lava Jato no final de 2013, autorizando escutas em aparelhos telefônicos de doleiros, Moro esperava apenas desarticular um grupo de quatro doleiros que comandavam o câmbio negro do dólar.
Entre eles estavam Alberto Youssef, seu velho conhecido. Youssef chefiou a quadrilha do Banestado em 2003, que mandou ilegalmente mais de US$ 30 bilhões para o exterior.
“No início, não havia a menor condição de prever o gigantismo das revelações que seriam alcançadas”, diz Moro. Youssef foi preso e fez nova delação. Seus depoimentos e os de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, desmontou o esquema da fraude na Petrobras e não sobrou pedra sobre pedra.
Um a um dos grandes empreiteiros foram sendo presos e documentos das propinas foram aparecendo.
A Lava Jato transformou a vida de Moro numa roda viva. Ele sempre ia de bicicleta de casa para o trabalho na Justiça Federal, o que não pode mais fazer. Agora, tem ido trabalhar acompanhado por seguranças da PF. Antes, levava os dois filhos à escola, tarefa que agora é feita agora por sua mulher Rosangela.
Quando vai a shoppings ou cinemas, muitas vezes Moro precisa usar bonés para não ser reconhecido. Mas quando é identificado, leva vida de pop-star. Já foi aplaudido até em supermercado quando fazia compras.
Respeitado inclusive por advogados dos réus que condena, Moro acha que a Lava Jato serviu para mostrar que não tem “ninguém acima da lei”. “Impunidade e corrupção sistêmica são irmãs e caminham juntas.
Mas a Justiça, como a democracia, é uma construção do dia a dia. Não há futuro assegurado, mas há razões para crer que houve uma melhora da qualidade de nossa democracia, considerando que ela pressupõe que ninguém está acima da lei”. Perguntado se aceitaria ser candidato a presidente da República como muitos sugerem, Moro é direto. “Não, jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política”, disse Moro.
Em março do ano que vem, a Lava Jato completa três anos e o próprio Moro acha que a operação está longe de terminar.
Afinal, ainda tem a delação do empreiteiro Marcelo Odebrecht, que promete denunciar uma infinidade de políticos.“É difícil prever o término, pois podem surgir provas e fatos novos (com a delação da Odebrecht) e não se pode simplesmente varrê-los para debaixo do tapete”, disse.
“Impunidade e corrupção sistêmica são irmãs e caminham juntas”