O paradoxo do Natal

Quantos planos morreram em 2018? Quantas pessoas te deixaram, quantos Herodes você enfrentou? Qual foi a estrela guia que você seguiu e descobriu esse ano? O que morreu em você… o que nasceu em você?

Todas estas questões são medulares para um inventário sincero de nosso ano, tudo isso — bom ou mau — é o que você carregará como mais uma porção de pigmentação da sua história, o quadro que você está pintando na sua existência. O caminho entre a manjedoura e a gólgota nem sempre é longo, mas o que você faz nesse hiato é responsabilidade sua.

Seus fracassos e glórias não são transferíveis, pelo menos não deveriam ser, pelo bem de seu caráter. Os seus atos têm consequências, e disso não se foge. Justamente por podermos escolher, por essa linda ou vil liberdade, nós erramos; infalivelmente vamos errar constantemente, seja no sabor do sorvete, seja na escolha da profissão; alguns erros e acertos vão durar minutos e não terão consequências duradouras, outras, por sua vez, durarão até o último segundo de suas existências.

É assim que funciona esse jogo chamado VIDA. Por isso que o vão que há entre a manjedoura e o sepulcro deve ser permeado de perdões e agradecimentos; lágrimas e risos; palmas e vaias; erros e falhas…

Um conservador sabe reconhecer as suas tralhas históricas, retirar de lá as suas riquezas e lixos; é isso o que você tem, acostume-se à glória e ao fracasso, à vitória e à derrota, é o que ensinou o Rei do Universo ao nascer numa simples manjedoura, na companhia de animais e de seus progenitores afugentados por um tirano.

E eis o paradoxo que tenciona a beleza que há na humanidade, o eterno mistério que há no fato de que é preciso morrer para entrar no reino da vida; que o Cristo, para cumprir a missão de ser Cristo, escolheu ser o mais simples dos judeus.

Ao mesmo tempo que o fedor do celeiro enchia o ar com o seu bafo típico de um celeiro, a sua glória não deixava de ser glória porque o seu vizinho era um bezerro. Aquela manjedoura, que foi partícipe da mais alta glória, ao mesmo tempo que foi o mais simples dos berçários mostra o quão grande pode ser o mais simples; assim como a cruz, que foi a maior das humilhações, sem demora se tornou o símbolo de salvação da humanidade.

Sim, apresento-vos o paradoxo do impossível: o símbolo de dor, pecado e sofrimento, hoje habita os peitos orgulhosos de milhões que veem nessas madeiras entrecruzadas a lembrança de um amor que as palavras não suportam explicar. Se o Deus todo-poderoso se fez carne e rompeu a mesquinharia do ego para se fazer Homem, aceitando as vicissitudes paradoxais da carne — sem, todavia, se render a elas —; então quem somos nós para arrogar a perfeição terrena em nossos planos e políticas?

O que o pequeno Cristo da manjedoura nos ensina a despojar de nossas presunções, entender que somos falhos ainda que chamados à perfeição, que somos filhos da manjedoura ainda que feitos pra um Reino transcendente. Somos capazes de boas obras e sucessos e, apesar do fedor do celeiro, dentro de nós há uma fagulha do eterno e do perfeito.

E aí está mais um paradoxo do Natal: comemorarmos todos os anos o nascimento de um Deus que sempre existiu; se alegrar com o nascimento mesmo que a cada ano estejamos mais próximos da morte, e que, justamente por isso, estamos mais pertos da vida eterna. Eis o paradoxo…

Deus nasceu humildemente numa manjedoura, então renasça, se refaça, saia do sepulcro e caia na manjedoura novamente; não é vergonha voltar, se voltar significa fazer o certo. Ser paradoxal não é ser contraditório, é ser húmus ainda que filhos de Christus.

Que Deus abençoe os senhores(as), suas famílias. Feliz Natal.


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