O diretor da JBS Ricardo Saud afirmou, em delação premiada, que o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), concordou em receber apoio financeiro para a campanha de 2014 em troca de favorecer uma empresa da J&F em uma futura licitação.
Segundo Saud, os executivos da JBS se aproximaram do secretário da Fazenda de Santa Catarina, Antonio Gavazzoni, durante o processo de compra da Seara, sediada no Estado. “Com isso, criou-se uma intimidade entre o Gavazzoni”, disse.
Em meados de 2013, o governador Raimundo Colombo, que é do partido de Gilberto Kassab, e o secretário Gavazzoni estiveram no apartamento de Wesley Batista, dono do grupo J&F, em São Paulo, para um jantar.
— Lá, nessa época, nós não tínhamos nada o que pedir a ele, mas por outro lado, estávamos montando uma empresa, uma construtora, na verdade, mas que trabalharia mais com concessões. E nós estávamos muito interessados com essa empresa que nós fizéssemos concessões de água e esgoto nos Estados.
O delator relata ainda que a J&F tinha interesse em ser beneficiada na licitação para comprar a companhia de água e esgoto do Estado e ambas as partes acertaram o pagamento de R$ 10 milhões para obter essa eventual vantagem.
“A propina foi paga da seguinte forma: R$ 8 milhões, em forma de pagamento ao PSD, carimbado para a candidatura do Raimundo Colombo. E R$ 2 milhões foi pago em dinheiro vivo, lá em Florianópolis mesmo”.
O valor em dinheiro foi quitado por meio da rede de supermercados Angeloni, segundo Saud. “Como se fosse para pagar em espécie uma nota fiscal nossa [da JBS] que estava vencendo, no valor de R$ 2 milhões”, disse.
O genro do dono do supermercado teria participado da transação, mas o próprio procurador que colheu o depoimento do executivo ressalta: “Sem saber que era algo ilícito”. O delator confirma que ele desconhecia a razão pelo qual o pagamento estava sendo feito daquela forma.
O negócio de saneamento básico em Santa Catarina não prosperou porque a J&F perdeu o interesse, relata Saud. “Desmontamos essa empresa, não queríamos mais confusão. Então, não foi para a frente.”
Em comunicado, o Grupo Angeloni informou que tem “histórico de relacionamento de muitos anos com a JBS, que deve ser um dos maiores fornecedores da maioria das redes de supermercados. O pagamento pelos produtos adquiridos deste fornecedor é tradicionalmente feito através de depósito bancário, mas, num determinado momento, recebemos a solicitação da JBS para que algumas duplicatas fossem pagas em carteira”.
Ainda de acordo com o texto, foi “encaminhado o pedido ao Departamento Financeiro para que efetivasse os pagamentos da forma solicitada. Não houve qualquer participação direta por parte do presidente do Grupo, que apenas autorizou os pagamentos por acumular o cargo de diretor comercial da empresa”.
O grupo declara, ainda, que “todos os títulos, inclusive esses em carteira, encontram-se devidamente contabilizados, quitados e as tratativas entre as partes registradas em correspondências eletrônicas. Ficamos surpresos com as notícias veiculadas, pois, conforme afirmado por um dos delatores, jamais tivemos conhecimento do que se tratava. Estávamos considerando apenas a regularidade do procedimento comercial”.
A matéria é do Portal R7