Pela primeira vez desde o começo da Operação Lava Jato, há dois anos e meio, o juiz deferal que comanda a maior investigação contra corrupção do país falou exclusivamente com o jornal O Estado de S. Paulo. Magistrado criticou o foro privilegiado e nova lei de abuso de autoridade Veja abaixo os principais trechos da entrevista do magistrado.
O que mais chocou o senhor na Operação Lava Jato?
A própria dimensão dos fatos. Considerando os casos já julgados aqui, o que nós vimos foi um caso de corrupção sistêmica, corrupção como uma espécie de regra do jogo. O que mais me chamou a atenção talvez tenha sido uma quase naturalização da prática da corrupção.
Mesmo depois de deflagrada a Lava Jato, o esquema continuou por alguns meses?
Houve situações constatadas de pessoas recebendo propina em fase adiantada (da Lava Jato). Um dos casos que chamou muito a atenção, um caso já julgado, por isso posso afirmar mais livremente, de um pagamento de propina a um membro da CPMI da Petrobrás, instalada em 2014.
O senhor defende a extinção do foro privilegiado?
O Supremo tem cumprido um papel muito importante na Operação Lava Jato. Longe de mim querer avaliar o trabalho do Supremo, mas acho que o ministro Teori Zavascki tem feito um trabalho intenso, muito importante e relevante. Mas existem alguns problemas estruturais: saber se o Supremo tem a capacidade, a estrutura suficiente, para atuar em tantos casos criminais.
Tem o Supremo condições de enfrentar toda essa gama de casos?
Não que o Supremo não seja eficiente, mas é um número limitado de juízes e é uma estrutura mais limitada.
Com o início de um maior volume de processos em instrução no Supremo, que tem um ritmo mais lento, há um risco para a imagem da Lava Jato?
Importante destacar que o foro privilegiado não é sinônimo de impunidade. O trabalho que tem sido feito lá (no Supremo) merece todos elogios. Acredito que vá haver um esforço para que isso seja julgado dentro de um prazo razoável. Isso não nos impede de discutir a questão, isso não tem nenhum demérito ao Supremo, discutir se é conveniente que essas ações remanesçam, essa quantidade de pessoas com foro privilegiado, na forma como estão. Isso gera impacto na pauta de julgamento do Supremo.
Sergio Moro descartou a possibilidade de sair candidato ou entrar para a política.
“Sou um homem da Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política”, “Não existe jamais esse risco”, completou. Moro disse que “o apoio da opinião pública tem sido essencial”, mas citou uma frase em latim pra dizer que “a glória mundana é passageira”. O juiz afirmou também que o término da operação é “imprevisível”.
“Embora haja muitas vezes expectativa de que os trabalhos se aproximam do fim, muitas vezes se encontram novos fatos, novas provas, e as instruções não podem simplesmente fechar os olhos.”