Uma reflexão para a Páscoa: Por que sofremos?

Neste artigo, a autora analisa a raiz do sofrimento segundo a milenar sabedoria da cabalá, que começou com o patriarca Abraão

Neste artigo, vamos analisar a raiz do sofrimento segundo a milenar sabedoria da cabalá, que começou com o patriarca Abraão, que, há quatro mil anos atrás, escreveu um livro chamado Sefer Yetzira (O livro da criação). O próximo trabalho importante foi o Livro do Zohar, escrito no século II a.C pelo Rabino Shimón Bar Yochai(Rashbi). Após o Zohar, temos os escritos de Ari, um renomado cabalista do século XVI. O século XX, por sua vez, viu o surgimento dos trabalhos do cabalista Yehuda Ashlag e seu sucessor Baruch Ashlag.  Nessa linhagem de grandes cabalistas, temos em nossos dias o renomado Drº. Ph D Michael Laitman.

A Cabalá (Kabbalah) não é uma filosofia, doutrina ou religião, mas uma ciência empírica, milenar, que esclarece a origem da criação, o funcionamento da natureza e como alcançamos níveis mais elevados de existência.  Para a Cabalá, o feriado de Pesach tem um profundo significado de redenção do homem sobre as forças primitivas de sua natureza. Em tempos de tantos desequilíbrios em todos os níveis da atividade humana, torna-se atual e necessário buscar no acervo da humanidade discernimentos e soluções acumuladas, vivenciadas e realizadas por povos da antiguidade.

Segundo a sabedoria da Cabalá ou ciência da conexão, enquanto operarmos dentro do programa da natureza que é fugir da dor e buscar autossatisfação, nossas expectativas em relação aos outros serão apenas projeções do nosso ego, serão exigências para  nosso próprio benefício, e tudo será uma expressão do nosso desejo de controle sobre o mundo e, portanto, sofreremos por nós mesmos, pelos golpes no nosso ego, no nosso desejo de beneficiar a nós mesmos e continuaremos sofrendo a cada frustração.

Mas quando somos privilegiados com algum entendimento sobre o verdadeiro propósito da criação que é beneficiar as criaturas, alcançamos uma percepção de que todos os golpes e sofrimentos têm o propósito de nos levar a um próximo nível de compreensão, amadurecimento. Nesse momento, entendemos que nossas emoções são primitivas e precisam evoluir para que haja um preenchimento completo de tudo e todos. Alcançamos que tudo é construído com o propósito de nos proporcionar este avanço, para que possamos evoluir do prazer hedonista para o amor altruísta. Para que possamos entender que não estamos no centro do universo.

É certo que cada um tem o seu caminho, a sua trilha, seu tempo e que não temos nenhum poder ou controle sobre isso, mas também é certo que estamos todos conectados como uma “matrix” e que nossos pensamentos, sentimentos e ações têm um impacto sobre o todo, quer tenhamos consciência disso ou não. Então, quando agimos inconscientemente, somos empurrados pela natureza para a evolução e este é um caminho de dor. Mas temos a opção de nos educar para níveis mais elevados de relações com nosso entorno, conhecer nossa natureza, saber como ela opera e aprender a conduzi-la de modo mais positivo e correto para harmonizar nossas contradições.

Então, não podemos cruzar os braços como se nada pudéssemos fazer. Nosso trabalho é interno, sobre nossas emoções e percepções. Quando restringimos nosso desejo de poder para o autobenefício e usamos a força desse desejo para organizar tudo em benefício do bem comum, crescemos em fé, nutrimos uma confiança profunda de que todos podemos alcançar o próximo nível de desenvolvimento, que em algum momento todos alcançaremos esse propósito, então nossas expectativas se convertem em esperança.

Aceitamos o que vem para nós como desafios para construirmos o amor acima. Como disseram os sábios: “ O amor cobre todas as transgressões”. Entenderemos que os golpes são para não nos desviarmos do caminho do autoconhecimento, espiritualidade, para chegarmos ao grau de humanos. Precisamos sair do nível emocional animal que opera pelo instinto para o nível emocional humano. Tudo é para nos tornar pessoas melhores, pois por meio disso alcançaremos novos atributos mais elevados e nosso coração de pedra se converterá num coração de carne, pois hoje só sentimos a nós mesmos e não conseguimos sentir nada ao nosso redor.

É muito difícil alcançar gratidão quando estamos enterrados na dor.  Somente indo acima disso, adentrando a espiritualidade, com apoio de um professor preparado, dos livros certos, dos amigos com propósito comum de revelar a força de unificação presente na natureza e que se revelará na correta conexão entre nós, podemos alcançar um sentido, um significado para o sofrimento.  Precisamos conhecer e implementar o método de como ajudar a natureza a realizar o seu trabalho de evolução.  Precisamos deixar de sucumbir ao sofrimento como meras vítimas do destino e passar a cooperar com as forças criadoras do universo. Aí passaremos a fazer o que precisa ser feito, ao invés de fugir da dor e buscar prazer. Deixaremos de nos preocupar somente com nossas próprias emoções e sentimentos, com nossa própria carne, mas buscaremos realmente perceber os outros, procuraremos sentir o que eles precisam para avançar e vamos cooperar com isso, porque encontraremos aí um sentido para nossa existência.

Mas sozinhos não conseguimos ver nada. Somente com a ajuda dos sábios, do grupo, dos amigos, daqueles que se reúnem com o mesmo propósito, podemos ir além do nosso próprio “Eu” e começar a sentir os outros. Dessa empatia, dessa aproximação interna, advém o equilíbrio. Deste ponto descobriremos nossos limites, nossos bloqueios, nossas forças e começaremos a harmonizar os opostos, neutralizar os conflitos, porque agora sabemos que a verdadeira raiz de todo sofrimento está no nosso próprio desejo de beneficiar a si mesmo, em nosso desejo de controlar tudo e todos e subjugá-los à nossa vontade.

Pelo estudo, aprenderemos que somos um desejo de receber prazer, que fomos construídos assim de propósito para que possamos crescer acima desta natureza bestial, para que possamos aderir aos atributos do Criador por nossa própria escolha, por nosso livre-arbítrio e finalmente ser Um com Ele. O   propósito da criação é fazer o bem às  suas criaturas e preencher tudo e todos com abundância, cabe a nós buscar o meio correto para realizar este propósito. Que possamos crescer por meio da expansão de nossa consciência e não pela dor, empurrados pela natureza.

Sucesso a todos nós!

Referências:

http://www.kabbalah.info/eng/content/view/frame/2373?/eng/&main

http://www.kabbalah.info/pt/

DEIXE UM COMENTÁRIO