O ex-governador do Rio Sérgio Cabral afirmou hoje (14) que nunca recebeu propina, que o dinheiro pago por empresas a ele eram para caixa 2 de campanhas e pediu desculpas ao povo por ter usado esses valores em causa própria. Cabral foi interrogado nesta quinta-feira pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, em processo que investiga o pagamento de recursos pela empreiteira Carioca Engenharia.
“Eu nunca recebi propina da Carioca Engenharia nem de empresa nenhuma. Foi recurso de campanha. Eu peço desculpas à população por ter feito uso de caixa 2, que era uma prática, e de ter feito uso pessoal de caixa 2 e das sobras. O que estou afirmando ao senhor e ao povo do Rio de Janeiro, e ao povo brasileiro, é que eu não pedi propina”, declarou Cabral.
Questionado por Bretas por que quase todos os ex-assessores e empresários envolvidos na Operação Lava Jato afirmam que ele recebia vantagens, Cabral disse que isso se tornou uma prática para os delatores obterem vantagens em seus processos: “Basta apontar o dedo para mim e dizer que foi propina, que ganha o prêmio da delação”.
Em outro ponto, o juiz perguntou ao ex-governador se ele poderia provar como foram gastos os recursos de sobra de campanha, mas Cabral respondeu que não poderia fazer isso, sob pena de citar todos os seus demais colegas: “Isso implicaria citar todos os companheiros meus, de todas as lutas políticas que nós realizamos ao longo dessa jornada. Eu afirmo que fiz uso pessoal desses recursos e muito uso nas campanhas eleitorais, minhas e de outros”.
Antes dele, foi interrogado o ex-secretário de Obras Hudson Braga, que negou ter recebido propina da Carioca Engenharia. Braga admitiu apenas ter recebido vantagens durante o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) de Manguinhos, da empresa Andrade Gutierrez, informação que já havia confirmado em processos anteriores. Depois foi chamado Wilson Carlos, ex-secretário de Governo da gestão Cabral, que preferiu se manter em silêncio, por orientação de seus advogados.
O advogado Rodrigo Roca, que defende Cabral, disse não ter esperança de absolvição do ex-governador nos processos sob responsabilidade de Bretas, mas que confia em reverter a situação nas instâncias superiores. “A verdade tem que aparecer em alguma hora. Não é possível que essas invenções prevaleçam sobre a verdade. E a verdade é que era dinheiro de sobra de campanha, não existia uma orcrim [organização criminosa], e o ex-governador não tem nada a ver com isso. Os delatores estão mentindo em benefício próprio”, sustentou Roca, à saída do tribunal.