Governo chinês lança aplicativo para cidadãos denunciarem pessoas por ‘opiniões equivocadas’

O governo do ditador Xi Jinping lançou um aplicativo que oferece aos cidadãos uma ferramenta para dedurar ao Estado quando alguém publica comentários online críticos ao Partido Comunista Chinês (PCC).

O novo serviço, um produto desenvolvido pela Administração do Ciberespaço da China, permitirá – a fim de estabelecer um “bom ambiente de opinião pública” – permitir que internautas denunciem pessoas que espalham “opiniões equivocadas”, segundo o jornal britânico The Independent.

“Por um tempo, algumas pessoas com segundas intenções espalharam declarações falsas historicamente niilistas online, maliciosamente distorcendo, caluniando e negando a história do Partido, nacional e militar em uma tentativa de confundir o pensamento das pessoas”, afirmou a Administração do Ciberespaço da China, em sua declaração oficial sobre a nova ferramenta.

“Esperamos que a maioria dos usuários da Internet desempenhe um papel ativo na supervisão da sociedade e denuncie com entusiasmo informações prejudiciais”, acrescentou.

O PCC usa o termo “niilismo histórico” para descrever aqueles que publicamente lançam dúvidas sobre a classe política dominante do governo.

Robert P. George, um acadêmico de Direito e professor da Universidade de Princeton, no Estados Unidos, disse na terça-feira (27) que teme a reverberação da ideia em solo americano.

“Infelizmente, é provável que haja uma grande demanda por este aplicativo nos Estados Unidos. Que [baita] ferramenta para a polícia do pensamento – e da fala –  em todos os lugares.”, escreveu o estudioso em seu Twitter.

O senador republicano Josh Hawley condenou o aplicativo, argumentando que é trata-se de uma evidência do PCC “imitando a esquerda americana, que tem publicado listas de eleitores de Trump e expulsando-os das redes sociais há meses”.

Scott Kennedy, conselheiro sênior e presidente do Conselho de Administração e Economia Chinesa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse à Newsweek que a iniciativa é “simplesmente um esforço da liderança atual para controlar a conversa sobre a história chinesa e limitar qualquer debate sobre interpretações de eventos diferentes, todos com o objetivo de colocar a liderança atual e Xi Jinping sob uma luz mais positiva.”

Considerando que o governo comunista chinês já proíbe o acesso à maioria dos sites fora de suas fronteiras, Kennedy disse que o novo app é apenas mais uma peça no contexto de “ambiente geral em que o escopo do debate permitido foi radicalmente reduzido”. Ele previu, porém, que muitos chineses não se envolverão no serviço.

O lançamento da aplicação ocorre apenas alguns meses depois de parlamentares chineses promoveram mudanças na Constituição do país, declarando que as pessoas que “insultam, caluniam ou infringem” a memória de “heróis nacionais” ou “mártires” podem permanecer até 3 anos na prisão, segundo informações da Reuters.

Em meados de fevereiro, foi revelado que um cidadão chinês de 22 anos, chamado Zhang Shulin, passou 15 meses na prisão pelo crime de “insultar líderes de Estado” na internet.

“Libertado recentemente, um cidadão chinês de 22 anos cumpriu 15 meses de prisão por “insultar líderes de estado” na Internet. Seu nome é Zhang Shulin, ele foi preso em outubro de 2019 por suas mensagens em um grupo de bate-papo do QQ que “insultava líderes de estado”, relevou a conta de Twitter ‘SpeechFreedomCN’, em 14 de fevereiro deste ano.

Zhang é apenas uma das muitas vítimas do regime de Xi Jinping. O The New York Times noticiou naquela época em uma planilha pública do Google que listava “crimes” de opinião cometidos na China.

Os infratores foram punidos por comentários que fizeram online e offline ao longo dos últimos oito anos. Os “delitos” listados vão desde aqueles que compartilharam pensamentos divergentes sobre a covid-19, questionaram o relato do governo sobre um confronto no verão passado entre as forças chinesas e indianas, ou criticaram agentes da lei.

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