As redes sociais parecem ser a última fronteira da batalha do governo venezuelano contra os meios de comunicação independentes.
Depois de expropriar TVs e afogar economicamente os principais jornais (há mais de 20 sob ameaça de fechamento por falta de dólares para importar insumos), o governo, por meio do provedor CANTV, adotou a estratégia de derrubar temporariamente as páginas do Facebook e do Twitter, além de aplicativos de trocas de mensagens.
O presidente Nicolás Maduro já demonstrou que o assunto é prioridade ao instituir, em janeiro, o vice-ministério de Redes Sociais, subordinado ao Ministério da Comunicação e Informação.
“Estamos driblando o problema nos conectando a provedores de fora da Venezuela”, disse o estudante de informática Jorge (ele não quis revelar o sobrenome), 20, presente nas recentes manifestações antichavistas em Caracas.
“Há várias formas de burlar esses bloqueios, e, se derrubam um aplicativo, amanhã outros dez aparecerão. É uma batalha perdida para eles se quiserem realmente combater vozes opositoras por essa via”, acrescentou.
As redes sociais são o principal meio de divulgação e comunicação dos participantes das marchas contra o governo de Nicolás Maduro, que começaram há duas semanas e já deixaram oito mortos.
O mais novo alvo do assédio do governo é o aplicativo Zello, muito popular na Venezuela. Trata-se de uma espécie de “walkie talkie”, específico para smartphones, que permite enviar uma mensagem de voz a uma pessoa ou a um grupo de pessoas.
Estudantes venezuelanos usam o aplicativo para convocar manifestações e falar sobre sua movimentação.
O diretor geral do Zello, Bill Moore, disse à agência Associated Press que o aplicativo teria sido bloqueado na Venezuela pelo provedor CANTV, empresa estatizada por Hugo Chávez em 2007.
Preocupado com seus milhares de usuários no país, Moore disse que a companhia desenvolve atualizações que permitam furar o bloqueio. A reclamação foi tanta que a CANTV emitiu um comunicado oficial, desmentindo “enfática e categoricamente que esteja envolvida na falha reportada por usuários”.
Os jornalistas que cobrem os protestos na Venezuela têm tido dificuldade em usar o Twitter. A reportagem da Folha experimentou quedas da página na última semana.
Sylvia Colombo
Folha de S. Paulo