Notícias sobre crimes não são nenhuma novidade no Brasil, país com um dos maiores índices de violência do mundo. E é claro, seus títulos precisam cativar os leitores de qualquer forma, já que será a única parte da matéria que muitos lerão. Mas de vez em quando, o uso de certos termos pode se tornar controverso, recebendo críticas de leitores nas redes sociais ou nas (tóxicas) caixas de comentários.
“Suspeito” e “bandido” são um bom exemplo. Em praticamente qualquer matéria em que o primeiro termo é utilizado no lugar do segundo, vemos leitores furiosos acusando o jornal de “partidário”, “esquerdista”, “mentiroso”, etc. Mas tais críticas possuem de fato algum fundamento? E se sim, por que os jornais não passam a adotar o termo “bandido” de vez?
Acontece que o uso do termo está associado a uma premissa ética: Todos são inocentes até que se prove o contrário. Enquanto a pessoa não receber um julgamento e uma sentença, é um consenso utilizar o termo “suspeito”, mais ameno, mesmo que ela tenha sido pega em flagrante. O termo “suspeito” também foi adotado no jornalismo para evitar questões judiciais.
Outro motivo para não utilizar termos como “bandido” ou “ladrão” é a forte carga semântica negativa que eles carregam, capaz de ferir a honra e a imagem social do indivíduo. Supondo que, após a veiculação de uma matéria na qual o indivíduo seja chamado de “bandido”, seja constatado que o mesmo seja inocente, o dano provavelmente já estará feito, visto o poder que o jornalista carrega. A pessoa seria marcada como criminosa pela sociedade pelo resto da vida e provavelmente vai pedir retratação aos jornais judicialmente com processos por exemplo de danos morais e injúria e indenizações.
O termo “acusado”, que também possui certo impacto negativo, já se faz mais presente, mesmo que de forma errônea em algumas ocasiões. Em especial, como um sinônimo de “suspeito”. A professora de Legislação em Comunicação Daniela Pereira, explica que “um acusado possui provas contra ele, porém ainda não foi condenado pela justiça”, enquanto o suspeito “é apenas um apontado pela polícia ou testemunhas”. Este erro é mais comum e até mesmo compreensível, já que é natural chamar uma pessoa que sofre uma acusação de acusado.