Em um período de apenas sete anos, a CBF teve seus três últimos presidentes
afastados do futebol por corrupção. Apesar disso, pouco mudou. O processo
eleitoral da entidade ocorreu com a mesma falta de transparências e regras
antidemocráticas que levaram a sua credibilidade para a lama.
O futuro presidente da CBF (salvo um acidente de percurso) foi escolhido em
reuniões com dirigentes de federações em uma sala de hotel do Rio de Janeiro,
sem presença de nenhum clube, sem escrutínio público, em uma articulação feita
por um dirigente que provavelmente será banido de toda atividade do futebol.
Sim, Rogério Caboclo (diretor executivo da entidade) foi uma escolha pessoal de
Marco Polo Del Nero. Como se sabe, Del Nero não pode nem viajar sob o risco de
ser preso pelas acusações de que levava propina em contratos… da CBF e da
Conmebol. Foi suspenso provisoriamente pela Fifa e pode ser banido na próxima
semana.
O escândalo que o tirou da CBF já tinha levado à prisão o então vice-presidente da
confederação José Maria Marin, mais um acusado de receber propinas por
contratos. Era também antecessor e amigo fiel de Del Nero. A ponto de sua chapa
para presidente ser chamada de ”Continuidade Administrativa”. Também venceu
com candidatura única.
Antes de Marin, reinou por mais de vintes anos no futebol brasileiro Ricardo
Teixeira. O ex-presidente da CBF, sumido em algum canto milionário do Rio de
Janeiro, era o imperador da chapa única, método com o qual se elegia de quatro em
quatro anos. Sua saída em 2012 se deu por outro escândalo de corrupção:
recebimento de propinas em contratos da Fifa/ISL. Iria ser banido e renunciou.
Neste meio tempo, não houve nenhuma regra para tornar a entidade mais
democrática. Pelo contrário. Manteve-se a cláusula de barreira que exige um
mínimo de oito assinaturas para inscrição de candidatura, o que deixa o processo
nas mãos das federações. Os clubes se tornaram coadjuvantes com votos de peso
inferior às federações, além da impossibilidade de apresentar candidatos.
Ressalte-se que a falta de participação dos clubes na política da CBF é também
culpada por esse status quo. Não houve nenhum movimento efetivo deles por
mudanças, fora alguns discursos e iniciativas isolados.
A falta de democracia na confederação é tão clara que Caboclo sequer apresentou
propostas aos seus eleitores. Foi escolhido pelo rei anterior, como o outro rei
anterior elegera o seguinte. Não se sabe se o FBI voltará a investigar negócios do
futebol brasileiro, e se terá novo impacto sobre dirigentes da CBF. Certo é que não
terá efeito nenhum na estrutura do futebol brasileiro