Mercado de celulares piratas no Brasil sofrerá duro golpe com bloqueio da Anatel em 2018

Responsável por colocar anualmente nada menos do que 12 milhões de aparelhos nas redes das operadoras de telefonia brasileiras, o mercado de celulares piratas sofrerá um duro golpe a partir de 9 de maio de 2018, quando eles deixarão de funcionar por conta de uma medida da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o blogueiro especialista em Tecnologia, fundador e editor do site Mobizoo, Anderson Mansera, explicou que o bloqueio de aparelhos celulares piratas – aqueles que não possuem certificação da Anatel, o que significa que podem ser mais baratos, mas representam risco ao usuário – será bom para o país.

“O número de réplicas de celulares é um problema sério no Brasil. É comum você ver aquela barraquinha vendendo aparelhos famosos, e eles são obviamente piratas, sem certificação nenhuma. Se você comprou um aparelho desses, de camelô, terá de comprar um aparelho novo e certificado – um modelo que teve seus componentes testados e aprovados”, disse.

O bloqueio de celulares piratas é uma antiga demanda dos fabricantes de aparelhos que atuam no mercado brasileiro. O início da medida é um desdobramento do Sistema Integrado de Gestão de Aparelhos (Siga), que foi implantado em 2014 e operado pela ABR Telecom, responsável pela administração da portabilidade numérica e pelo sistema que bloqueia celulares roubados, o Cadastro Nacional de Estações Móveis Impedidas (Cemi).

Os primeiros bloqueios começam no dia 9 de maio no Distrito Federal e em Goiás. Antes do bloqueio, os usuários vão receber uma mensagem de alerta sobre a irregularidade dos seus aparelhos. As notificações começam no dia 22 de fevereiro de 2018. A expectativa da Anatel é cobrir todo o país até março de 2019.

No Acre, Rondônia, São Paulo, Tocantins, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as notificações começam em 23 de setembro de 2018 e o bloqueio será em 8 de dezembro de 2018. Já em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Estados do Nordeste e da região Norte, as notificações começam em 7 de janeiro de 2019 e o bloqueio dos aparelhos piratas começam no dia 24 de março de 2019.

Só serão bloqueados os aparelhos que forem registrados na rede das operadoras, ou seja que começaram a funcionar com chip após os períodos de notificação. Na opinião de Mansera, a implementação da medida por parte da Anatel será sim interessante para os fabricantes, mas todo o mercado tende a ganhar no médio e longo prazo.

“Os fabricantes querem a tranquilidade de não terem de concorrer com réplicas. Sem elas, o mercado de celulares será maximizado. É importante mencionar que a venda de celulares teve um grande baque no último ano e agora começou uma retomada. Será bom também para as assistências técnicas das principais marcas, que recebem pedidos que muitas vezes nem deveriam atender [envolvendo aparelhos piratas]”, explicou.

O especialista destacou ainda que até mesmo as operadoras têm o que comemorar. É verdade que muitos chips “em um país majoritariamente de pré-pagos”, disse Mansera, operem hoje em celulares piratas, o período de adaptação exigirá alguma dose de paciência de todos os envolvidos, com o impacto nas receitas das telefônicas sendo temporário.

“As operadoras não querem perder linhas novas. Com um chip, você começa a usar uma linha em qualquer aparelho e a receita gerada por isso é grande. Evidente que elas não querem perder isso. Mas [a medida da Anatel] não vai bloquear linhas, e sim aparelhos piratas. O cliente ficará frustrado, mas terá de trocar de celular e não será isso que o fará mudar de operadora. O impacto é temporário e haverá adaptação de todos”, avaliou.

Pirata x importado

Diante da medida que será implementada pela Anatel, Mansera reforçou que é importante não confundir celulares piratas e réplicas de aparelhos famosos com celulares importados, adquiridos por brasileiros no exterior. Enquanto os primeiros deixarão de funcionar, os produtos adquiridos fora do Brasil são regulares e não serão afetados. O motivo é que o IMEI – um número único, como um “chassi” do aparelho – é único e intransferível.

“É preciso tomar cuidado com o que é pirata e com o que é importado. Há quem confunda isso. Saber se o aparelho é pirata é fácil: se você comprou em um camelô ou em uma loja alternativa, a chance é grande que ele seja. Você pode verificar discando *#06#, e neste número você descobre se o seu celular é certificado pela Anatel e se tem um IMEI válido”, afirmou o especialista.

“O IMEI é um código não só usado pela Anatel, mas por qualquer agência reguladora do mundo. As pessoas se assustam quando olham e veem que seu celular foi fabricado na China, mas há grandes marcas chinesas, coreanas, que são certificados e não possuem problemas. Na caixa ou no próprio aparelho, quando regular, costuma constar o IMEI. Se utilizar dois chips, o aparelho terá dois IMEIs, e assim sucessivamente”, emendou.

Aparelhos piratas e réplicas podem utilizar um IMEI falso ou de outro celular para conseguir acesso à rede das operadores de telefonia. Estes são os principais alvos da Anatel com sua medida que passa a valer em maio de 2018. Tal mercado não é nada irrelevante: a GSMA, organização internacional de operadores de telefonia, estima que existam cerca de 41 milhões de aparelhos piratas no mundo.

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