Há um grande número de operações de compra, venda e fusões e aquisições entre empresas privadas brasileiras, notadamente pelo capital chinês, que em 2016 esteve presente em 35% dos negócios efetuados no Brasil. A crescente participação da China no país tem preocupado a muitos. Mas, segundo o economista Fernando Pinho, não há razões para temer.
Em artigo recente, o especialista destacou que, atualmente, há no mundo cerca de US$ 40 trilhões investidos em títulos públicos de diversos países, onde 25% (US$ 10 trilhões) estão sendo remunerados a taxas de juros próximas de zero. Segundo ele, levando-se em consideração que há 159 estatais federais no Brasil, muitas delas com sérios problemas de gestão, já haveria um grande alívio às finanças públicas nacionais, que agora apresentam um rombo fabuloso. Mas quais são as áreas de negócios brasileiras mais apetitosas ao capital chinês? E o que essas negociações dizem sobre o atual momento do Brasil?
Em entrevista à Sputnik Brasil, Fernando Pinho opinou que as recentes tentativas do Brasil de vender estatais não têm um viés ideológico, tendo sido provocadas exclusivamente pela necessidade do governo de fazer caixa, necessidade que teria sido resultado de problemas de gestões anteriores.
“Nos últimos anos, houve uma onda esquerdizante na América Latina, incluindo o Brasil, e criou-se uma avalanche de problemas de gestão, populismo, uma série de problemas também relacionados à desonestidade. Então, essa necessidade de caixa do governo é que está fazendo com que se coloque à venda o patrimônio público que está sendo mal administrado”, afirmou.
Nesta quarta-feira, 27, quatro usinas hidrelétricas operadas pela Cemig foram vendidas em um leilão realizado na bolsa de valores de São Paulo. O Governo Federal arrecadou R$ 12,13 bilhões, sendo que, destes, a maior parte foi paga por um grupo chinês, o Spic Pacif Energy PTY, R$ 7,18 bilhões pela hidrelétrica de São Simão.
De acordo com Pinho, não há dúvidas de que o setor energético representa o maior atrativo para os chineses no Brasil, uma vez que o país asiático vem se especializando nessa área, abrindo cada vez mais possibilidades de negócios.
“Hoje, a China é dona dos maiores grupos energéticos do mundo. Energia elétrica, eólica, gás, petróleo, fotovoltaica…”, disse o economista. “O setor energético no Brasil interessa muito a eles, principalmente o petróleo, porque eles importam muito petróleo. E o Brasil é um produtor de petróleo de porte considerável no mundo hoje”.
Além da energia, a China também tem demonstrado interesse em outros setores, como o agropecuário. Segundo o especialista, o avanço do capital chinês no Brasil é tão forte que, recentemente, as autoridades chinesas pediram autorização ao governo brasileiro para criar uma câmara de compensação de moedas, clearing house, para que o yuan seja utilizado na compra de empresas no Brasil, diminuindo a dependência do dólar e do euro.
“Eles gozam de uma credibilidade que o Brasil, infelizmente, não goza lá fora. Não podemos esquecer que o dinheiro brasileiro lá fora é papel pintado.”