Além de coceiras e dores, problema pode se agravar e trazer sérias complicações
É relativamente comum ver os cães coçarem suas orelhas, mas quando isso acontece em demasia, pode ser o sinal de algum problema ou doença que precisa ser tratado o quanto antes.
Nem sempre os tutores sabem como identificar a presença de tais problemas, o que é bastante prejudicial, já que a prevenção e os cuidados em casa podem fazer toda a diferença para o diagnóstico, tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida do peludo.
Uma das situações mais comuns nesse caso é a otite canina, que pode ser controlada e evitada com praticidade, desde que se conheça o que ela é e qual o tratamento ideal, seja ele preventivo ou corretivo.
Vamos entender melhor o que é essa doença, quais os sintomas e formas de tratamento para que você saiba como proceder caso veja seu cão manifestar algum sinal estranho.
O que é a otite canina?
Como quase todo “ite”, a otite é uma inflamação que pode atingir o ouvido externo, interno ou médio dos cães.
As orelhas dos cachorros trazem bactérias, fungos e ácaros naturalmente. Porém, quando essa concentração é modificada, o ouvido fica sujeito a apresentar inflamações em maior ou menor intensidade, seja em conjunto com outros fatores ou não.
Todos os cães são sujeitos a apresentar essa condição, embora aqueles que tenham orelhas caídas, como Cocker Spaniels, Poodles, Dachshunds, Beagles e Bloodhounds ofereçam condições “privilegiadas”, já que elas ficam mais fechadas do que em outras espécies.
Um cachorro com otite pode ficar com coceira, incômodo e dor no ouvido, além de, em casos mais extremos, prejudicar sua audição e até mesmo o equilíbrio, que depende diretamente da saúde auditiva, a ponto de fazer o pet começar a andar em círculos ou de maneira irregular.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), os gastos mensais médios com cachorros são os seguintes, de acordo com seu porte:
- Pequeno: R$ 216,50
- Médio: R$ 278,21
- Grande: R$ 411,32
Embora não haja dados relacionados diretamente à otite, é de se esperar que boa parte das consultas ao veterinário sejam feitas por esse motivo, já que nenhum tutor quer ver seu melhor amigo animal com dor ou problemas no ouvido.
Quais são as causas do surgimento da otite?
De acordo com a mais recente classificação proposta para a doença, há causas primárias e secundárias, bem como fatores de predisposição e de perpetuação relacionados à doença, os quais estão dispostos abaixo, seguidos de alguns exemplos para cada caso:
Causas primárias
Os problemas primários são responsáveis por iniciar processos inflamatórios dentro do canal do ouvido e alterar o ambiente auditivo, o que possibilita a entrada de fatores complicadores secundários, como infecções, por exemplo.
As causas primárias podem ser sutis, o que dificulta sua percepção acertada por parte dos tutores dos animais ou mesmo por veterinários até que um fator complicador secundário se manifeste.
De acordo com o estudo “Aetiology of canine otitis externa: a retrospective study of 100 cases”, de Saridomichelakis MN, Farmaki R, Leontides LS e outros, publicado em 2007 no periódico Veterinary Dermatology, feito com 100 cachorros, dos quais 37% tinham otite canina externa aguda e 63% apresentavam condições crônicas e recorrentes, as causas mais comuns foram as seguintes:
- Dermatite alérgica (43%);
- Aristos de grama (12%), que são prolongamentos encontrados nas plantas, como as pequenas e finas estruturas que saem dos cereais;
- Otoacariasis (7%), que são também conhecidos como ácaros de ovelhas.
Logo, a maioria dos casos surge de um fator primário, o que significa que quanto antes for feito o diagnóstico, maiores são as chances de um tratamento rápido e eficaz.
Exemplos: parasitas; dermatófitos; transtornos de hipersensibilidade, queratinização, endocrinológicos, autoimunes e glandulares; corpos estranhos; tumores benignos e malignos; crescimentos não-neoplásicos; problemas idiopáticos.
Causas secundárias
Tais causas ocorrem em combinação com as primárias ou com fatores de predisposição (que serão vistos com mais detalhes abaixo). As causas secundárias mais comuns são infecções.
Em boa parte das vezes, essas causas são simples de ser eliminadas depois de identificadas. Porém, também podem ser crônicas e difíceis de tratar, geralmente devido a causas primárias ou fatores perpetuantes que não foram descobertos corretamente.
Exemplos: bactérias; fungos; leveduras.
Fatores de predisposição
Estes fatores, sozinhos, não causam otite, mas facilitam inflamações pela alteração do microambiente presente no canal externo do ouvido, o que permite o estabelecimento de bactérias, leveduras e fatores patogênicos. Estes, quando combinados a fatores primários ou secundários, podem aumentar o problema.
É fundamental eliminar todos os fatores de predisposição possíveis caso se identifique algo que não pode ser corrigido, como é o caso do formato do ouvido do cachorro, por exemplo, que pode se transformar em um potencial ambiente de proliferação.
Exemplos: formato natural da orelha do cão; predisposição da raça; doenças virais respiratórias; imunossupressão (através do uso de remédios ou da presença de doenças imunossupressoras); umidade excessiva; tratamento demasiado (limpeza e umidade excessivas ou traumas físicos).
Fatores de perpetuação
Por fim, os fatores perpetuantes sustentam e agravam os processos inflamatórios e dificultam a resolução da otite, além de piorar quadros já existentes. Quando presentes, eles acentuam as causas secundárias ou possibilitam seu surgimento, já que oferecem ambientes favoráveis para tal.
Em vários casos, os fatores de perpetuação impedem a resolução da otite, especialmente quando os tratamentos são voltados apenas às causas primárias e secundárias, que podem ser sutis à primeira vista, mas se desenvolver até se transformarem em componentes crônicos.
Esses fatores não estão relacionados a doenças e geralmente aparecem em casos crônicos, além de serem causas que comumente levam à realização de intervenções cirúrgicas.
Exemplos: otite média; mudanças patológicas progressivas (alterações na migração, proliferação, estenose e calcificação epitelial); membrana anormal nos tímpanos (opaca, com cicatrizes, rupturas ou inflamações).
Como identificar problemas no ouvido dos cães?
As causas e fatores são assuntos técnicos e que parecem difíceis de serem compreendidos, principalmente pelos tutores, mas isso não significa que eles não podem ajudar no tratamento e diagnóstico, muito pelo contrário.
Os cães costumam manifestar alguns sinais de que algo não vai bem com sua saúde auditiva, o que pode ser um indicativo de otite, como os seguintes:
- Cabeça balançando de maneira diferente da habitual ou pensa para um lado;
- Odor exalado pelos ouvidos;
- Inchaço ou coceira nas orelhas;
- Corrimento nos ouvidos;
- Pele escamosa ou com textura diferente da habitual nas orelhas ou na parte interna do ouvido.
Caso se note pelo menos um desses itens, o ideal é procurar um veterinário imediatamente, já que o profissional pode avaliar a condição do animal e, se necessário, solicitar exames ou receitar um medicamento.
Além disso, os cuidados na hora do banho são fundamentais, já que o excesso de água dentro do ouvido proporciona um ambiente ainda melhor para a proliferação de fungos e bactérias.
O melhor a se fazer para evitar essa possibilidade é tampar os ouvidos do cão com algodão hidrofóbico, que impede a passagem de água, além de secar as orelhas depois do banho com cuidado, preferencialmente com o uso de gazes, para não empurrar sujeiras ou outras substâncias para a parte interna do ouvido.
Nos cães com orelhas caídas, a recomendação é de limpá-las pelo menos uma vez por semana. Já as espécies que não apresentam essa característica podem ter suas orelhas limpas a cada duas ou três semanas, já que lavagens excessivas são potenciais fatores para o desequilíbrio dos fungos, ácaros e bactérias.
A partir de agora, preste ainda mais atenção nas orelhas e no ouvido do seu pet. Se perceber algo estranho, leve-o imediatamente ao veterinário para que ele possa saber o que está acontecendo, identificar se é otite canina ou não e, se preciso for, recomendar o tratamento adequado para seu melhor amigo ficar bem de novo.