Uma pequena floricultura situada na Rua Pará, no Centro de Londrina, recebeu R$ 6.467.242,52 da empresa de engenharia Rio Tibagi, subsidiária da concessionária Econorte e investigada na Operação Lava Jato, segundo o Ministério Público Federal (MPF).
A Guerra & Rosa foi constituída em 2006, tendo como um dos sócios Leonardo Guerra, o principal administrador da Rio Tibagi, preso em 22 de de fevereiro na 48ª fase da Lava Jato.
De acordo com os procuradores, os mais de R$ 6 milhões foram recebidos pela floricultura entre 2011 e 2013. Guerra deixou a sociedade em 2012. Atualmente, a irmã dele, Heloiza Guerra, é proprietária da empresa.
Nesta etapa, a operação apura crimes como corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro na gestão das concessões de rodovias federais no Paraná. A força-tarefa afirma que a tarifa de pedágio no estado foi superfaturada para financiar a corrupção.
“Tal volume de pagamentos não parece ser compatível com a aparente pequena dimensão da Floricultura Guerra & Rosa que não teve mais do que dois empregados entre 2008 a 2013”, contestou o MPF, em petição protocolada junto à Justiça na segunda-feira (26).
Procurado pelo G1, o advogado Rodrigo Antunes, que representa os irmãos, afirmou que se manifestará apenas nos autos do processo.
Flores artificiais
Pedestres e motoristas que passam por ali quase não percebem que na loja fechada com uma porta de grade de ferro há um comércio de flores e artigos para presentes.
Se não fosse pela placa fixada em um muro, não se saberia que no pequeno espaço há uma floricultura.
A loja da floricultura Floribella (o nome fantasia da Guerra & Rosa), especialista em buquê de noivas, não tem nenhuma flor ou arranjos de flores verdadeiras expostos.
As poucas prateleiras de vidro sustentam pequenos vasos com folhagens ou flores artificiais e exemplos de cestas matinais simples.
Para saber quais são os produtos vendidos pela floricultura e como podem ser entregues, uma funcionária recorre ao site da loja para mostrar os itens disponíveis.
As investigações
Por meio da loja e de outras empresas de fachada, segundo a Lava Jato, o administrador movimentou milhões de reais em depósitos “sem causa lícita” em um esquema de desvio de recursos provenientes da concessionária.
O dinheiro desviado de tarifas de pedágios era depositado por empresas “prestadoras de serviços” contratadas pela Rio Tibagi, “embora nunca tenham registrado empregados e seus objetos sociais em nada se assemelhem à conservação de rodovias”, ainda conforme a investigação.
“(…) tais empresas (de fachada ou sem capacidade operacional) emitiam notas referentes a transações inexistentes, de modo a acobertar a retirada de valores da RIO TIBAGI, os quais, posteriormente, eram repassados à ‘FLORICULTURA GUERRA E ROSA'”, acusa o MPF.
Com os recursos desviados da Rio Tibagi por meio da floricultura, Guerra adquiriu 40 imóveis em Londrina, entre 2011 e 2013, e custeou despesas próprias e de seus familiares, aponta a Receita Federal.
Para o Ministério Público Federal, Guerra representa “apenas a ‘ponta do iceberg’ no contexto de um conglomerado de operações criminosas que envolvem diretamente os demais representados e agentes públicos sob investigação”.
48ª fase
A 48ª fase da Lava Jato tem como alvos principais servidores públicos e empresas investigadas por corrupção, lavagem de dinheiro, associação criminosa e peculato. Seis pessoas foram presas – entre eles, o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem no Paraná (DER-PR), Nelson Leal.
Além mandados de prisão, a Polícia Federal (PF) cumpriu 55 mandados de busca e apreensão; a Casa Civil, na sede do governo estadual, foi um dos alvos.
Segundo o MPF, a fase da operação tenta mostrar as “reais causas” do usuário pagar preços tão elevados pelos pedágios. De acordo com a investigação, o valor das tarifas foi superfaturado para financiar a corrupção.
Os presos são investigados por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, associação criminosa e peculato.